tag:blogger.com,1999:blog-60100121752321950692024-02-02T10:26:36.002-08:00Nosso Lar / Chico Xavier / André LuizUnknownnoreply@blogger.comBlogger51125tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-59838399732451649192017-08-18T17:41:00.001-07:002017-09-05T07:04:03.578-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Mensagem De André Luiz</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é jogo escuro das ilusões.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Copiando-lhe a expressão, a alma percorre igualmente caminhos variados e etapas diversas, também recebe afluentes de conhecimentos, aqui e ali, avoluma-se em expressão e purifica-se em qualidade, antes de encontrar o Oceano Eterno da Sabedoria.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Cerrar os olhos carnais constitui operação demasiadamente simples.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Permutar a roupagem física não decide o problema fundamental da iluminação, como a troca de vestidos nada tem que ver com as soluções profundas do destino e do ser.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Oh! caminhos das almas, misteriosos caminhos do coração! É mister percorrer-vos, antes de tentar a suprema equação da Vida Eterna! É indispensável viver o vosso drama, conhecer-vos detalhe a detalhe, no longo processo do aperfeiçoamento espiritual!...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Seria extremamente infantil a crença de que o simples "baixar do pano" resolvesse transcendentes questões do Infinito.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Uma existência é um ato.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Um corpo - uma veste.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Um século - um dia.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Um serviço - uma experiência.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Um triunfo - uma aquisição.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Uma morte - um sopro renovador.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Quantas existências, quantos corpos, quantos séculos, quantos serviços, quantos triunfos, quantas mortes necessitamos ainda?</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">E o letrado em filosofia religiosa fala de deliberações finais e posições definitivas!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ai! por toda parte, os cultos em doutrina e os analfabetos do espírito!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />É preciso muito esforço do homem para ingressar na academia do Evangelho do Cristo, ingresso que se verifica, quase sempre, de estranha maneira - ele só, na companhia do Mestre, efetuando o curso difícil, recebendo lições sem cátedras visíveis e ouvindo vastas dissertações sem palavras articuladas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Muito longa, portanto, nossa jornada laboriosa.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Nosso esforço pobre quer traduzir apenas uma idéia dessa verdade fundamental.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Grato, pois, meus amigos!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Manifestamo-nos, junto a vós outros, no anonimato que obedece à caridade fraternal. A existência humana apresenta grande maioria de vasos frágeis, que não podem conter ainda toda a verdade. Aliás, não nos interessaria, agora, senão a experiência profunda, com os seus valores coletivos. Não atormentaremos alguém com a idéia da eternidade.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Que os vasos se fortaleçam, em primeiro lugar. Forneceremos, somente, algumas ligeiras notícias ao espírito sequioso dos nossos irmãos na senda de realização espiritual, e que compreendem conosco que "o espírito sopra onde<br />quer".</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E, agora, amigos, que meus agradecimentos se calem no papel, recolhendo-se ao grande silêncio da simpatia e da gratidão.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Atração e reconhecimento, amor e júbilo moram na alma. Crede que guardarei semelhantes valores comigo, a vosso respeito, no santuário do coração.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Que o Senhor nos abençoe.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />ANDRÉ LUIZ</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-9446133625373098492017-08-18T17:39:00.000-07:002017-09-05T07:02:36.579-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 1 - Nas Zonas Inferiores</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Eu guardava a impressão de haver perdido a idéia de tempo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A noção de espaço esvaíra-se-me de há muito.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Estava convicto de não mais pertencer ao número dos encarnados no mundo e, no entanto, meus pulmões respiravam a longos haustos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Desde quando me tornara joguete de forças irresistíveis? Impossível esclarecer.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Sentia-me, na verdade, amargurado duende nas grades escuras do horror. Cabelos eriçados, coração aos saltos, medo terrível senhoreando-me, muita vez gritei como louco, implorei piedade e clamei contra o doloroso desânimo que me subjugava o espírito; mas, quando o silêncio implacável não me absorvia a voz estentórica, lamentos mais comovedores que os meus respondiam-me aos clamores. Outras vezes gargalhadas sinistras rasgavam a quietude ambiente.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Algum companheiro desconhecido estaria, a meu ver, prisioneiro da loucura. Formas diabólicas, rostos alvares, expressões animalescas surgiam, de quando em quando, agravando-me o assombro. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">A paisagem, quando não totalmente escura, parecia<br />banhada de luz alvacenta, como que amortalhada em neblina espessa, que os raios de Sol aquecessem de muito longe.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E a estranha viagem prosseguia... Com que fim?</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Quem o poderia dizer? Apenas sabia que fugia sempre... O medo me impelia de roldão. Onde o lar, a esposa, os filhos?</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Perdera toda a noção de rumo. O receio do ignoto e o pavor da treva absorviam-me todas as faculdades de raciocínio, logo que me desprendera dos últimos laços físicos, em pleno sepulcro! Atormentava-me a consciência: preferiria a ausência total da razão, o não-ser.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />De início, as lágrimas lavavam-me incessantemente o rosto e apenas, em minutos raros, felicitava-me a bênção do sono. Interrompia- se, porém, bruscamente, a sensação de alívio. Seres monstruosos acordavam-me, irônicos; era imprescindível fugir deles.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Reconhecia, agora, a esfera diferente a erguer-se da poalha do mundo e, todavia, era tarde. Pensamentos angustiosos atritavam-me o cérebro. Mal delineava projetos de solução, incidentes numerosos impeliam-me a considerações estonteantes. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Em momento algum, o problema religioso surgiu tão profundo a meus olhos. Os princípios puramente filosóficos, políticos e científicos, figuravam- se-me agora extremamente secundários para a vida humana.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Significavam, a meu ver, valioso patrimônio nos planos da Terra, mas urgia reconhecer que a humanidade não se constitui de gerações transitórias e sim de Espíritos eternos, a caminho de gloriosa destinação.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Verificava que alguma coisa permanece acima de toda cogitação meramente intelectual. Esse algo é a fé, manifestação Divina ao homem. Semelhante análise surgia, contudo, tardiamente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />De fato, conhecia as letras do Velho Testamento e muita vez folheara o Evangelho; entretanto, era forçoso reconhecer que nunca procurara as letras sagradas com a luz do coração. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Identificava- as através da crítica de escritores menos afeitos ao sentimento e à consciência, ou em pleno desacordo com as verdades essenciais.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Noutras ocasiões, interpretava-as com o sacerdócio organizado, sem sair jamais do círculo de contradições, onde estacionara voluntariamente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Em verdade, não fora um criminoso, no meu próprio conceito.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A filosofia do imediatismo, porém, absorvera-me.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">A existência terrestre, que a morte transformara, não fora assinalada de lances diferentes da craveira comum. Filho de pais talvez excessivamente generosos, conquistara meus títulos universitários sem maior sacrifício, compartilhara os vícios da mocidade do meu tempo, organizara o lar, conseguira filhos, perseguira situações estáveis que garantissem a tranqüilidade econômica do meu grupo familiar, mas, examinando atentamente a mim mesmo, algo me fazia experimentar a noção de tempo perdido, com a silenciosa acusação da consciência. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Habitara a Terra, gozara-lhe os bens, colhera as bênçãos da vida, mas não lhe retribuíra ceitil do débito enorme. Tivera pais, cuja generosidade e sacrifícios por mim nunca avaliei; esposa e filhos que prendera, ferozmente, nas teias rijas do egoísmo destruidor. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Possuíra um lar que fechei a todos os que palmilhavam o deserto da angústia. Deliciara-me com os júbilos da família, esquecido de estender essa bênção divina à imensa família humana, surdo a comezinhos deveres de fraternidade.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Enfim, como a flor de estufa, não suportava agora o clima das realidades eternas. Não desenvolvera os germes divinos que o Senhor da Vida colocara em minh'alma. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Sufocara-os, criminosamente, no desejo incontido de bem estar. Não adestrara órgãos para a vida nova. Era justo, pois, que aí despertasse à maneira de aleijado que, restituído ao rio infinito da eternidade, não pudesse acompanhar senão compulsoriamente a carreira incessante das águas; ou como mendigo infeliz, que, exausto em pleno deserto, perambula à mercê de impetuosos tufões.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Oh! amigos da Terra! quantos de vós podereis evitar o caminho da amargura com o preparo dos campos interiores do coração?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Acendei vossas luzes antes de atravessar a grande sombra.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Buscai a verdade, antes que a verdade vos surpreenda. Suai agora para não chorardes depois. </span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-51473840049456439712017-08-18T17:08:00.000-07:002017-09-05T07:00:37.581-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 2 - Clarêncio </span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">"Suicida! Suicida! Criminoso! Infame!" - gritos assim, cercavam- me de todos os lados.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Onde os sicários de coração empedernido?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Por vezes, enxergava-os de relance, escorregadios na treva espessa e, quando meu desespero atingia o auge, atacava-os, mobilizando extremas energias.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Em vão, porém, esmurrava o ar nos paroxismos da cólera. Gargalhadas sarcásticas feriam-me os ouvidos, enquanto os vultos negros desapareciam na sombra.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Para quem apelar? Torturava-me a fome, a sede me escaldava. </span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Comezinhos fenômenos da experiência material patenteavam-se- me aos olhos. Crescera-me a barba, a roupa começava a romper-se com os esforços da resistência, na região desconhecida. A circunstância mais dolorosa, no entanto, não é o terrível abandono a que me sentia votado, mas o assédio incessante de forças perversas que me assomavam nos caminhos ermos e obscuros. Irritavam- me, aniquilavam-me a possibilidade de concatenar idéias.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Desejava ponderar maduramente a situação, esquadrinhar razões e estabelecer novas diretrizes ao pensamento, mas aquelas vozes, aqueles lamentos misturados de acusações nominais, desnorteavam-me irremediavelmente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Que buscas, infeliz! Aonde vais, suicida?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Tais objurgatórias, incessantemente repetidas, perturbavam-me o coração. Infeliz, sim; mas, suicida? - nunca! Essas increpações, a meu ver, não eram procedentes. Eu havia deixado o corpo físico a contragosto. Recordava meu porfiado duelo com a morte.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ainda julgava ouvir os últimos pareceres médicos, enunciados na Casa de Saúde; lembrava a assistência desvelada que tivera, os curativos dolorosos que experimentara nos dias longos que se seguiram à delicada operação dos intestinos. Sentia, no curso dessas reminiscências, o contacto do termômetro, o pique desagradável da agulha de injeções e, por fim, a última cena que precedera o grande sono: minha esposa ainda jovem e os três filhos<br />contemplando-me, no terror da eterna separação. </span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Depois... o despertar na paisagem úmida e escura e a grande caminhada que parecia sem-fim.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Por que a pecha de suicídio, quando fora compelido a abandonar a casa, a família e o doce convívio dos meus? O homem mais forte conhecerá limites à resistência emocional. Firme e resoluto a princípio, comecei por entregar-me a longos períodos de desânimo e, longe de prosseguir na fortaleza moral, por ignorar o próprio fim, senti que as lágrimas longamente represadas visitavam- me com mais freqüência, extravasando do coração.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A quem recorrer? Por maior que fosse a cultura intelectual trazida do mundo, não poderia alterar, agora, a realidade da vida.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Meus conhecimentos, ante o infinito, semelhavam-se a pequenas bolhas de sabão levadas ao vento impetuoso que transforma as paisagens. Eu era alguma coisa que o tufão da verdade carreava para muito longe. Entretanto, a situação não modificava a outra realidade do meu ser essencial. Perguntando a mim mesmo se não enlouquecera, encontrava a consciência vigilante, esclarecendo-me que continuava a ser eu mesmo, com o sentimento e a cultura colhidos na experiência material. Persistiam as necessidades fisiológicas, sem modificação. Castigava-me a fome todas as fibras e, nada obstante, o abatimento progressivo não me fazia cair definitivamente em absoluta exaustão. De quando em quando, deparavam-se-me verduras que me pareciam agrestes, em torno de humildes filetes d'água a que me atirava sequioso.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Devorava as folhas desconhecidas, colava os lábios à nascente turva, enquantomo permitiam as forças irresistíveis, a impelirem-me para frente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Muita vez suguei a lama da estrada, recordei o antigo pão de cada dia, vertendo copioso pranto. Não raro, era imprescindível ocultar-me das enormes manadas de seres animalescos, que passavam em bando, quais feras insaciáveis. Eram quadros de estarrecer! acentuava-se o desalento. Foi quando comecei a recordar que deveria existir um Autor da Vida, fosse onde fosse.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Essa idéia confortou-me. Eu, que detestara as religiões no mundo, experimentava agora a necessidade de conforto místico. Médico extremamente arraigado ao negativismo da minha geração, impunhase- me atitude renovadora. Tornava-se imprescindível confessar a falência do amor-próprio, a que me consagrara orgulhoso.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E, quando as energias me faltaram de todo, quando me senti absolutamente colado ao lodo da Terra, sem forças para reerguerme, pedi ao Supremo Autor da Natureza me estendesse mãos paternais, em tão amargurosa emergência.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Quanto tempo durou a rogativa? Quantas horas consagrei à súplica, de mãos-postas, imitando a criança aflita?</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Apenas sei que a chuva das lágrimas me lavou o rosto; que todos os meus sentimentos se concentraram na prece dolorosa. Estaria, então, completamente esquecido?</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Não era, igualmente, filho de Deus, embora não cogitasse de conhecer-lhe a atividade sublime quando engolfado nas vaidades da experiência humana? Por que não me perdoaria o Eterno Pai, quando providenciava ninho às aves inconscientes e protegia, bondoso, a flor tenra dos campos agrestes?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ah! é preciso haver sofrido muito, para entender todas as misteriosas belezas da oração; é necessário haver conhecido o remorso, a humilhação, a extrema desventura, para tomar com eficácia o sublime elixir de esperança. Foi nesse instante que as neblinas espessas se dissiparam e alguém surgiu, emissário dos Céus. Um velhinho simpático me sorriu paternalmente. Inclinou-se, fixou nos meus os grandes olhos lúcidos, e falou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Coragem, meu filho! O Senhor não te desampara.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Amargurado pranto banhava-me a alma toda. </span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Emocionado, quis traduzir meu júbilo, comentar a consolação que me chegava, mas, reunindo todas as forças que me restavam, pude apenas inquirir:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Quem sois, generoso emissário de Deus?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O inesperado benfeitor sorriu bondoso e respondeu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Chama-me Clarêncio, sou apenas teu irmão.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E, percebendo o meu esgotamento, acrescentou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Agora, permanece calmo e silencioso. É preciso descansar para reaver energias.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Em seguida, chamou dois companheiros que guardavam atitude de servos desvelados e ordenou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Prestemos ao nosso amigo os socorros de emergência.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Alvo lençol foi estendido ali mesmo, à guisa de maca improvisada, aprestando-se ambos os cooperadores a transportarem-me, generosamente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Quando me alçavam, cuidadosos, Clarêncio meditou um instante e esclareceu, como quem recorda inadiável obrigação:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Vamos sem demora. Preciso atingir "Nosso Lar" com a presteza possível.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-78408481694230270022017-08-18T17:02:00.003-07:002017-09-05T06:57:32.336-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 3 - A Oração Coletiva</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Embora transportado à maneira de ferido comum, lobriguei o quadro confortante que se desdobrava à minha vista.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Clarêncio, que se apoiava num cajado de substância luminosa, deteve-se à frente de grande porta encravada em altos muros, cobertos de trepadeiras floridas e graciosas. Tateando um ponto da muralha, fez-se longa abertura, através da qual penetramos, silenciosos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Branda claridade inundava ali todas as coisas. Ao longe, gracioso foco de luz dava a idéia de um pôr do sol em tardes primaveris.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A medida que avançávamos, conseguia identificar preciosas construções, situadas em extensos jardins.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ao sinal de Clarêncio, os condutores depuseram, devagarinho, a maca improvisada. A meus olhos surgiu, então, a porta acolhedora de alvo edifício, à feição de grande hospital terreno.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Dois jovens, envergando túnicas de níveo linho, acorreram pressurosos ao chamado de meu benfeitor, e quando me acomodavam num leito de emergência, para me conduzirem cuidadosamente ao interior, ouvi o generoso ancião recomendar, carinhoso:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Guardem nosso tutelado no pavilhão da direita.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Esperam agora por mim. Amanhã cedo voltarei a vê-lo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Enderecei-lhe um olhar de gratidão, ao mesmo tempo em que era conduzido a confortável aposento de amplas proporções, ricamente mobilado, onde me ofereceram leito acolhedor.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Envolvendo os dois enfermeiros na vibração do meu reconhecimento, esforcei-me por lhes dirigir a palavra, conseguindo dizer por fim: – Amigos, por quem sois, explicai-me em que novo mundo me encontro... De que estrela me vem, agora, esta luz confortadora e brilhante?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Um deles afagou-me a fronte, como se fora conhecido pessoal de longo tempo e acentuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Estamos nas esferas espirituais vizinhas da Terra, e o Sol que nos ilumina neste momento é o mesmo que nos vivificava o corpo físico. Aqui, entretanto, nossa percepção visual é muito mais rica. A estrela que o Senhor acendeu para os nossos trabalhos terrestres é mais preciosa e bela do que a supomos quando no círculo carnal. Nosso Sol é a divina matriz da vida e a claridade que irradia provém do Autor da Criação.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Meu ego, como que absorvido em onda de infinito respeito, fixou a luz branda que invadia o quarto, através das janelas, e perdi-me no curso de profundas cogitações.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Recordei, então, que nunca fixara o Sol, nos dias terrestres, meditando na imensurável bondade dAquele que no-lo concede para o caminho eterno da vida. Semelhava-me assim ao cego venturoso, que abre os olhos para a Natureza sublime, depois de longos séculos de escuridão.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A essa altura, serviram-me caldo reconfortante, seguido de água muito fresca, que me pareceu portadora de fluidos Divinos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Aquela reduzida porção de líquido reanimava-me inesperadamente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não saberia dizer que espécie de sopa era aquela; se alimentação sedativa, se remédio salutar. Novas energias amparavam-me a alma, profundas comoções vibravam-me no espírito.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Minha maior emoção, todavia, reservava-se para instantes depois.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Mal não saíra da consoladora surpresa, divina melodia penetrou quarto adentro, parecendo suave colméia de sons a caminho das esferas superiores.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Aquelas notas de maravilhosa harmonia atravessavam-me o coração. Ante meu olhar indagador, o enfermeiro, que permanecia ao lado, esclareceu, bondoso:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />É chegado o crepúsculo em "Nosso Lar". Em todos os núcleos desta colônia de trabalho, consagrada ao Cristo, há ligação direta com as preces da Governadoria.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E enquanto a música embalsamava o ambiente, despediu-se, atencioso:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Agora, fique em paz. Voltarei logo após a oração.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Empolgou-me ansiedade súbita.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não poderei acompanhar-vos? - perguntei, suplicante.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Está ainda fraco - esclareceu, gentil -, todavia, caso sinta-se disposto...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Aquela melodia renovava-me as energias profundas. Levantei-me vencendo dificuldades e agarrei-me ao braço fraternal que se me estendia. Seguindo vacilante, cheguei a enorme salão, onde numerosa assembléia meditava em silêncio, profundamente recolhida.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Da abóbada cheia de claridade brilhante, pendiam delicadas e flóreas guirlandas, que vinham do teto à base, formando radiosos símbolos de Espiritualidade Superior. Ninguém parecia dar conta da minha presença, ao passo que mal dissimulava eu a surpresa inexcedível. Todos os circunstantes, atentos, pareciam aguardar alguma coisa. Contendo a custo numerosas indagações que me esfervilhavam na mente, notei que ao fundo, em tela gigantesca, desenhava-se prodigioso quadro de luz quase feérica.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Obedecendo a processos adiantados de televisão, surgiu o cenário de templo maravilhoso. Sentado em lugar de destaque, um ancião coroado de luz fixava o Alto, em atitude de prece, envergando alva túnica de irradiações resplandecentes. Em plano inferior, setenta e duas figuras pareciam acompanhá-lo em respeitoso silêncio. Altamente surpreendido, reparei Clarêncio participando da assembléia, entre os que cercavam o velhinho refulgente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Apertei o braço do enfermeiro amigo e, compreendendo ele que minhas perguntas não se fariam esperar, esclareceu em voz baixa, que mais se assemelhava a leve sopro:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Conserve-se tranqüilo. Todas as residências e instituições de "Nosso Lar" estão orando com o Governador, através da audição e visão a distância. Louvemos o Coração Invisível do Céu.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Mal terminara a explicação, as setenta e duas figuras começaram a cantar harmonioso hino, repleto de indefinível beleza. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">A fisionomia de Clarêncio, no círculo dos veneráveis companheiros, figurou-se-me tocada de mais intensa luz. O cântico celeste constituía- se de notas angelicais, de sublimado reconhecimento. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Pairavam no recinto misteriosas vibrações de paz e de alegria e, quando as notas argentinas fizeram delicioso staccato, desenhou-se ao longe, em plano elevado, um coração maravilhosamente azul,<br />com estrias douradas. Cariciosa música, em seguida, respondia aos louvores, procedente talvez de esferas distantes.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Foi aí que abundante chuva de flores azuis se derramou sobre nós; mas, se fixávamos os miosótis celestiais, não conseguíamos detê-los nas mãos. As corolas minúsculas desfaziam-se de leve, ao tocar-nos a fronte, experimentando eu, por minha vez, singular renovação de energias ao contacto das pétalas fluídicas que me balsamizavam o<br />coração.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Terminada a sublime oração, regressei ao aposento de enfermo, amparado pelo amigo que me atendia de perto.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Entretanto, não era mais o doente grave de horas antes. A primeira prece coletiva, em "Nosso Lar", operara em mim completa transformação.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Conforto inesperado envolvia-me a alma. Pela primeira vez, depois de anos consecutivos de sofrimento, o pobre coração, saudoso e atormentado, à maneira de cálice muito tempo vazio, enchera-se de novo das gotas generosas do licor da esperança.</span><br />
<br />
<span style="font-size: small;">1 Imagem simbólica formada pelas vibrações mentais dos habitantes da</span><br />
<span style="font-size: small;">colônia. - (Nota do Autor espiritual)</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-12909067299461575222017-08-18T16:57:00.004-07:002017-09-05T06:54:03.330-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 4 - O Médico Espiritual</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">No dia imediato, após reparador e profundo repouso, experimentei a bênção radiosa do Sol amigo, qual suave mensagem ao<br />coração. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Claridade reconfortante atravessava ampla janela, inundando o recinto de cariciosa luz. Sentia-me outro. Energias novas tocavam-me o íntimo. Tinha a impressão de sorver a alegria da vida, a longos haustos. Na alma, apenas um ponto sombrio - a<br />saudade do lar, o apego à família que ficara distante. Numerosas interrogações pairavam-me na mente, mas tão grande era a sensação de alívio que eu sossegava o espírito, longe de qualquer interpelação.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Quis levantar-me, gozar o espetáculo da Natureza cheia de brisas e de luz, mas não o consegui e concluí que, sem a cooperação magnética do enfermeiro, tornava-se-me impossível deixar o leito.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não voltara a mim das surpresas consecutivas, quando se abriu a porta e vi entrar Clarêncio acompanhado por simpático desconhecido. Cumprimentaram-me, atenciosos, desejando-me paz. Meu benfeitor da véspera indagou do meu estado geral.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Acorreu o enfermeiro, prestando informações.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Sorridente, o velhinho amigo apresentou-me o companheiro.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Tratava- se, disse, do irmão Henrique de Luna, do Serviço de Assistência Médica da colônia espiritual. Trajado de branco, traços fisionômicos irradiando enorme simpatia, Henrique auscultou- me demoradamente, sorriu e explicou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– É de lamentar que tenha vindo pelo suicídio.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Enquanto Clarêncio permanecia sereno, senti que singular assomo de revolta me borbulhava no íntimo. Suicídio? Recordei as acusações dos seres perversos das sombras. Não obstante o cabedal de gratidão que começava a acumular, não calei a incriminação.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Creio haja engano - asseverei, melindrado -, meu regresso do mundo não teve essa causa. Lutei mais de quarenta dias, na Casa de Saúde, tentando vencer a morte. Sofri duas operações graves, devido a oclusão intestinal...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sim - esclareceu o médico, demonstrando a mesma serenidade superior -, mas a oclusão radicava-se em causas profundas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Talvez o amigo não tenha ponderado bastante. O organismo espiritual apresenta em si mesmo a história completa das ações praticadas no mundo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E inclinando-se, atencioso, indicava determinados pontos do meu corpo:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Vejamos a zona intestinal - exclamou. - A oclusão derivava de elementos cancerosos, e estes, por sua vez, de algumas leviandades do meu estimado irmão, no campo da sífilis. A moléstia talvez não assumisse características tão graves, se o seu procedimento mental no planeta estivesse enquadrado nos princípios da fraternidade e da temperança. Entretanto, seu modo especial de conviver, muita vez exasperado e sombrio, captava destruidoras vibrações naqueles que o ouviam. Nunca imaginou que a cólera fosse manancial de forças negativas para nós mesmos? </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">A ausência de autodomínio, a inadvertência no trato com os semelhantes, aos quais muitas vezes ofendeu sem refletir, conduziam-no freqüentemente à esfera dos seres doentes e inferiores. Tal circunstância agravou, de muito, o seu estado físico.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Depois de longa pausa, em que me examinava atentamente, continuou: – Já observou, meu amigo, que seu fígado foi maltratado pela sua própria ação; que os rins foram esquecidos, com terrível menosprezo às dádivas sagradas?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Singular desapontamento invadira-me o coração.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Parecendo desconhecer a angústia que me oprimia, continuava o médico, esclarecendo:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Os órgãos do corpo somático possuem incalculáveis reservas, segundo os desígnios do Senhor. O meu amigo, no entanto, iludiu excelentes oportunidades, esperdiçando patrimônios preciosos da experiência física. A longa tarefa, que lhe foi confiada pelos Maiores da Espiritualidade Superior, foi reduzida a meras tentativas de trabalho que não se consumou. Todo o aparelho gástrico foi destruído à custa de excessos de alimentação e bebidas alcoólicas, aparentemente sem importância.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Devorou-lhe a sífilis energias essenciais. Como vê, o suicídio é incontestável.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Meditei nos problemas dos caminhos humanos, refletindo nas oportunidades perdidas. Na vida humana, conseguia ajustar numerosas máscaras ao rosto, talhando-as conforme as situações.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;"> Aliás, não poderia supor, noutro tempo, que me seriam pedidas contas de episódios simples, que costumava considerar como fatos sem maior significação. Conceituara, até ali, os erros humanos, segundo os preceitos da criminologia. Todo acontecimento insignificante, estranho aos códigos, entraria na relação de fenômenos naturais.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Deparava-se-me, porém, agora, outro sistema de verificação das faltas cometidas. Não me defrontavam tribunais de tortura, nem me surpreendiam abismos infernais; contudo, benfeitores sorridentes comentavam-me as fraquezas como quem cuida de uma criança desorientada, longe das vistas paternas. Aquele interesse espontâneo, no entanto, feria-me a vaidade de homem.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Talvez que, visitado por figuras diabólicas a me torturarem, de tridente nas mãos, encontrasse forças para tornar a derrota menos amarga. Todavia, a bondade exuberante de Clarêncio, a inflexão de ternura do médico, a calma fraternal do enfermeiro, penetravam-me fundo o espírito. Não me dilacerava o desejo de reação; doía-me a vergonha. E chorei. Rosto entre as mãos, qual menino contrariado e infeliz, pus-me a soluçar com a dor que me parecia irremediável. Não havia como discordar. Henrique de Luna falava com sobejas razões. Por fim, abafando os impulsos vaidosos, reconheci a extensão de minhas leviandades de outros tempos. A falsa noção da dignidade pessoal cedia terreno à justiça. Perante minha visão espiritual só existia, agora, uma realidade torturante:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />era verdadeiramente um suicida, perdera o ensejo precioso da experiência humana, não passava de náufrago a quem se recolhia por caridade.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Foi então que o generoso Clarêncio, sentando-se no leito, a meu lado, afagou-me paternalmente os cabelos e falou comovido:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Oh! meu filho, não te lastimes tanto. Busquei-te atendendo à intercessão dos que te amam, dos planos mais altos. Tuas lágrimas atingem seus corações. Não desejas ser grato, mantendo-te tranqüilo no exame das próprias faltas? Na verdade, tua posição é a do suicida inconsciente; mas é necessário reconhecer que centenas de criaturas se ausentam diariamente da Terra, nas mesmas condições. Acalma-te, pois.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Aproveita os tesouros do arrependimento, guarda a bênção do remorso, embora tardio, sem esquecer que a aflição não resolve problemas. Confia no Senhor e em nossa dedicação fraternal. Sossega a alma perturbada, porque muitos de nós outros já perambulamos igualmente nos teus caminhos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ante a generosidade que transbordava dessas palavras, mergulhei a cabeça em seu colo paternal e chorei longamente.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-4212743523120169612017-08-18T16:51:00.003-07:002017-09-05T06:51:39.302-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 5 - Recebendo Assistência</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">– É você o tutelado de Clarêncio?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A pergunta vinha de um jovem de singular e doce expressão.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Grande bolsa pendente da mão, como quem conduzia apetrechos de assistência, endereçava-me ele sorriso acolhedor. Ao meu sinal afirmativo, mostrou-se à vontade e, maneiras fraternas, acentuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sou Lísias, seu irmão. Meu diretor, o assistente Henrique de Luna, designou-me para servi-lo, enquanto precisar tratamento.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– É enfermeiro? - indaguei.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sou visitador dos serviços de saúde. Nessa qualidade, não só coopero na enfermagem, como também assinalo necessidades de socorro, ou providências que se refiram a enfermos recémchegados.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Notando-me a surpresa, explicou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Nas minhas condições há numerosos servidores em "Nosso Lar". O amigo ingressou agora na colônia e, naturalmente, ignora a amplitude dos nossos trabalhos. Para fazer uma idéia, basta lembrar que apenas aqui, na seção em que se encontra, existem mais de mil doentes espirituais, e note que este é um dos menores edifícios do nosso parque hospitalar.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Tudo isso é maravilhoso! - exclamei.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Adivinhando que minhas observações iam descambar para o elogio espontâneo, Lísias levantou-se da poltrona a que se recolhera e começou a auscultar-me, atento, impedindo-me o agradecimento verbal. – A zona dos seus intestinos apresenta lesões sérias com vestígios muito exatos do câncer; a região do fígado revela dilacerações; a dos rins demonstra característicos de esgotamento prematuro.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Sorrindo, bondoso, acrescentou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sabe o irmão o que significa isso?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sim - repliquei, o médico esclareceu ontem, explicando que devo esses distúrbios a mim mesmo...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Reconhecendo o acanhamento da confissão reticenciosa, apressou-se a consolar:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Na turma de oitenta enfermos a que devo assistência diária, cinqüenta e sete se encontram nas suas condições. E talvez ignore que existem, por aqui, os mutilados. Já pensou nisso? Sabe que o homem imprevidente, que gastou os olhos no mal, aqui comparece de órbitas vazias?</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Que o malfeitor, interessado em utilizar o dom da locomoção fácil nos atos criminosos, experimenta a desolação da paralisia, quando não é recolhido absolutamente sem pernas? Que os pobres obsidiados nas aberrações sexuais costumam chegar em extrema loucura?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Identificando-me a perplexidade natural, prosseguiu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– "Nosso Lar" não é estância de espíritos propriamente vitoriosos, se conferirmos ao termo sua razoável acepção. </span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Somos felizes, porque temos trabalho; e a alegria habita cada recanto da colônia, porque o Senhor não nos retirou o pão abençoado do<br />serviço.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Aproveitando a pausa mais longa, exclamei sensibilizado:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Continue, meu amigo, esclareça-me. Sinto-me aliviado e tranqüilo. Não será esta região um departamento celestial dos eleitos?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias sorriu e explicou: – Recordemos o antigo ensinamento que se refere a muitos chamados e poucos escolhidos na Terra.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E vagueando o olhar no horizonte longínquo, como a fixar experiências de si mesmo no painel das recordações mais íntimas, acentuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– As religiões, no planeta, convocam as criaturas ao banquete celestial. Em sã consciência, ninguém que se tenha aproximado, um dia, da noção de Deus, pode alegar ignorância nesse particular.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Incontável é o número dos chamados, meu amigo; mas, onde os que atendem ao chamado? Com raras exceções, a massa humana prefere aceder a outro gênero de convites. Gasta-se a possibilidade nos desvios do bem, agrava-se o capricho de cada um, elimina-se o corpo físico a golpes de irreflexão. Resultado: milhares de criaturas retiram-se diariamente da esfera da carne em doloroso estado de incompreensão. Multidões sem conta erram em todas as direções nos círculos imediatos à crosta planetária, constituídas de loucos, doentes e ignorantes.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Notando-me a admiração, interrogou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Acreditaria, porventura, que a morte do corpo nos conduziria a planos de milagres? Somos compelidos a trabalho áspero, a serviços pesados e não basta isso. Se temos débitos no planeta, por mais alto que ascendamos, é imprescindível voltar, para retificar, lavando o rosto no suor do mundo, desatando algemas de ódio e substituindo-as por laços sagrados de amor. Não seria justo<br />impor a outrem a tarefa de mondar o campo que semeamos de espinhos, com as próprias mãos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Abanando a cabeça, acrescentava:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Caso dos muitos chamados, meu caro. O Senhor não esquece homem algum; todavia, raríssimos homens o recordam.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Acabrunhado com a lembrança dos próprios erros, diante de tão grandes noções de responsabilidade individual, objetei: </span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">– Como fui perverso!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Contudo, antes que me alongasse noutras exclamações, o visitador colocou a destra carinhosa em meus lábios, murmurando:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Cale-se! meditemos no trabalho a fazer. No arrependimento verdadeiro é preciso saber falar, para construir de novo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Em seguida, aplicou-me passes magnéticos, atenciosamente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Fazendo os curativos na zona intestinal, esclareceu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não observa o tratamento especializado da zona cancerosa?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Pois note bem: toda medicina honesta é serviço de amor, atividade de socorro justo; mas o trabalho de cura é peculiar a cada espírito. Meu irmão será tratado carinhosamente, sentir-se-á forte como nos tempos mais belos da sua juventude terrena, trabalhará muito e, creio, será um dos melhores colaboradores em "Nosso Lar"; entretanto, a causa dos seus males persistirá em si mesmo, até que se desfaça dos germes de perversão da saúde divina, que agregou ao seu corpo sutil pelo descuido moral e pelo desejo de gozar mais que os outros. A carne terrestre, onde abusamos, é também o campo bendito onde conseguimos realizar frutuosos labores de cura radical, quando permanecemos atentos ao dever justo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Meditei os conceitos, ponderei a bondade divina e, na exaltação da sensibilidade, chorei copiosamente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias, contudo, terminou o tratamento do dia, com serenidade, e falou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Quando as lágrimas não se originam da revolta, sempre constituem remédio depurador. Chore, meu amigo. Desabafe o coração. E abençoemos aquelas beneméritas organizações microscópicas que são as células de carne na Terra. Tão humildes e tão preciosas, tão detestadas e tão sublimes pelo espírito de serviço.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Sem elas, que nos oferecem templo à retificação, quantos milênios gastaríamos na ignorância? </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Assim falando, afagou-me carinhosamente a fronte abatida e despediu-se com um ósculo de amor.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-70784554795290231152017-08-18T16:47:00.001-07:002017-09-05T06:48:12.981-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 6 - Precioso Aviso</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">No dia imediato, após a oração do crepúsculo, Clarêncio me procurou em companhia do atencioso visitador.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Fisionomia a irradiar generosidade, perguntou, abraçandome:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Como vai? Melhorzinho?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Esbocei o gesto do enfermo que se vê acariciado na Terra, amolecendo as fibras emotivas. No mundo, às vezes, o carinho fraterno é mal interpretado.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Obedecendo ao velho vício, comecei a explicar-me, enquanto os dois benfeitores se sentavam comodamente a meu lado:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não posso negar que esteja melhor; entretanto, sofro intensamente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Muitas dores na zona intestinal, estranhas sensações de angústia no coração. Nunca supus fosse capaz de tamanha resistência, meu amigo. Ah! como tem sido pesada a minha cruz!...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Agora que posso concatenar idéias, creio que a dor me aniquilou todas as forças disponíveis...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Clarêncio ouvia, atencioso, demonstrando grande interesse pelas minhas lamentações, sem o menor gesto que denunciasse o propósito de intervir no assunto. Encorajado com essa atitude, continuei:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Além do mais, meus sofrimentos morais são enormes e inexprimíveis.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Amainada a tormenta exterior com os socorros<br />recebidos, volto agora às tempestades íntimas. Que terá sido feito de minha esposa, de meus filhos?</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Teria o meu primogênito conseguido progredir, segundo meu velho ideal? E as filhinhas? </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Minha desventurada Zélia muitas vezes afirmou que morreria de saudades, se um dia eu lhe faltasse. Admirável esposa! Ainda lhe sinto as lágrimas dos momentos derradeiros. Não sei desde quando vivo o pesadelo da distância... Continuadas dilacerações roubaram-me a noção do tempo. Onde estará minha pobre companheira? </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Chorando junto às cinzas do meu corpo, ou nalgum recanto escuro das regiões da morte? Oh! minha dor é muito amarga! Que terrível destino o do homem penhorado no devotamento à família! Creio que raras criaturas terão padecido tanto quanto eu!... No planeta, vicissitudes, desenganos, doenças, incompreensões e amarguras, abafando escassas notas de alegria; depois, os sofrimentos da morte do corpo... </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Em seguida, martirizações no além-túmulo! Que<br />será, então, a vida? Sucessivo desenrolar de misérias e lágrimas?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não haverá recurso à semeadura da paz? Por mais que deseje firmar-me no otimismo, sinto que a noção de infelicidade me bloqueia o espírito, como terrível cárcere do coração. Que desventurado destino, generoso benfeitor!.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Chegado a essa altura, o vendaval da queixa me conduzira o<br />barco mental ao oceano largo das lágrimas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Clarêncio, contudo, levantou-se sereno e falou sem afetação:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Meu amigo, deseja você, de fato, a cura espiritual?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ao meu gesto afirmativo, continuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Aprenda, então, a não falar excessivamente de si mesmo, nem comente a própria dor. Lamentação denota enfermidade mental e enfermidade de curso laborioso e tratamento difícil. É indispensável criar pensamentos novos e disciplinar os lábios.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Somente conseguiremos equilíbrio, abrindo o coração ao Sol da Divindade. Classificar o esforço necessário de imposição esmagadora, enxergar padecimentos onde há luta edificante, sói identificar indesejável cegueira d'alma. Quanto mais utilize o verbo por dilatar considerações dolorosas, no círculo da personalidade, mais duros se tornarão os laços que o prendem a lembranças mesquinhas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O mesmo Pai que vela por sua pessoa, oferecendo-lhe teto generoso, nesta casa, atenderá aos seus parentes terrestres. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Devemos ter nosso agrupamento familiar como sagrada construção, mas sem esquecer que nossas famílias são seções da Família universal, sob a Direção Divina. Estaremos a seu lado para resolver dificuldades presentes e estruturar projetos de futuro, mas não dispomos do tempo para voltar a zonas estéreis de lamentação.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Além disso, temos, nesta colônia, o compromisso de aceitar o trabalho mais áspero como bênção de realização, considerando que a Providência desborda amor, enquanto nós vivemos onerados de dívidas. Se deseja permanecer nesta casa de assistência, aprenda a pensar com justeza.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Nesse ínterim, secara-se-me o pranto e, chamado a brios pelo generoso instrutor, assumi diversa atitude, embora envergonhado da minha fraqueza.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não disputava você, na carne - prosseguiu Clarêncio, bondoso -, as vantagens naturais, decorrentes das boas situações? Não estimava a obtenção de recursos lícitos, ansioso de estender benefícios aos entes amados? Não se interessava pelas remunerações justas, pelas expressões de conforto, com possibilidades de atender à família?</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Aqui, o programa não é diferente. Apenas divergem os detalhes. Nos círculos carnais, a convenção e a garantia monetária; aqui, o trabalho e as aquisições definitivas do espírito imortal.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Dor, para nós, significa possibilidade de enriquecer a alma; a luta constitui caminho para a divina realização. Compreendeu a diferença? As almas débeis, ante o serviço, deitam-se para se queixarem aos que passam; as fortes, porém, recebem o serviço como patrimônio sagrado, na movimentação do qual se preparam, a caminho da perfeição. Ninguém lhe condena a saudade justa, nem pretende estancar sua fonte de sentimentos sublimes. Acresce notar, todavia, que o pranto da desesperação não edifica o bem. Se ama, em verdade, a família terrena, é preciso bom ânimo para lhe ser útil. Fez-se longa pausa. A palavra de Clarêncio levantara-me para elucubrações mais sadias.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Enquanto meditava a sabedoria da valiosa advertência, meu benfeitor, qual o pai que esquece a leviandade dos filhos para recomeçar serenamente a lição, tornou a perguntar com um belo sorriso:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Então, como passa? Melhor?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Contente por me sentir desculpado, à maneira da criança que deseja aprender, respondi, confortado:</span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-size: x-large;"><br />– Vou bem melhor, para melhor compreender a Vontade Divina.</span></span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-49287203753950746912017-08-18T16:43:00.002-07:002017-09-04T16:14:23.037-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 7 - Explicações De Lísias</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Repetiram-se as visitas periódicas de Clarêncio e a atenção diária de Lísias.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />À medida que procurava habituar-me aos deveres novos, sensações de desafogo me aliviavam o coração. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Diminuíram as dores e os impedimentos de locomoção fácil. Notava, porém, que, a recordações mais fortes dos fenômenos físicos, me voltavam a angústia, o receio do desconhecido, a mágoa da inadaptação.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Apesar de tudo, encontrava mais segurança dentro de mim.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Deleitava-me, agora, contemplando os horizontes vastos, debruçado às janelas espaçosas. Impressionavam-me, sobretudo, os aspectos da Natureza. Quase tudo, melhorada cópia da Terra.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Cores mais harmônicas, substâncias mais delicadas.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Forrava-se o solo de vegetação. Grandes árvores, pomares fartos e jardins deliciosos. Desenhavam-se montes coroados de luz, em continuidade à planície onde a colônia repousava. Todos os departamentos apareciam cultivados com esmero. A pequena distância, alteavam-se graciosos edifícios. Alinhavam-se a espaços regulares, exibindo formas diversas.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Nenhum sem flores à entrada, destacando-se algumas casinhas encantadoras, cercadas por muros de hera, onde rosas diferentes desabrochavam, aqui e ali, adornando o verde de cambiantes variados.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Aves de plumagens policromas cruzavam os ares e, de quando em quando, pousavam agrupadas nas torres muito alvas, a se erguerem retilíneas, lembrando lírios gigantescos, rumo ao céu.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Das janelas largas, observava, curioso, o movimento do parque.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Extremamente surpreendido, identificava animais domésticos, entre as árvores frondosas, enfileiradas ao fundo. Nas minhas lutas introspectivas, perdia-me em indagações de toda sorte. Não conseguia atinar com a multiplicidade de formas análogas às do planeta, considerando a circunstância de me encontrar numa esfera propriamente espiritual.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias, o companheiro amável de todos os dias, não regateava explicações.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A morte do corpo não conduz o homem a situações miraculosas, dizia. Todo processo evolutivo implica gradação.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Há regiões múltiplas para os desencarnados, como existem planos inúmeros e surpreendentes para as criaturas envolvidas de carne terrestre.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Almas e sentimentos, formas e coisas, obedecem a princípios de desenvolvimento natural e hierarquia justa.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Preocupava-me, todavia, permanecer ali, num parque de saúde, havia muitas semanas, sem a visita sequer de um conhecido do mundo. Afinal, não fora eu a única pessoa do meu círculo a decifrar o enigma da sepultura. Meus pais me haviam antecipado na grande jornada. Amigos vários, noutro tempo, me haviam precedido.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Por que, então, não apareciam naquele quarto de enfermidade espiritual, para conforto do meu coração dolorido? Bastariam alguns momentos de consolação.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Um dia, não pude conter-me e perguntei ao solícito visitador:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Meu caro Lísias, acha possível, aqui, o encontro com aqueles que nos antecederam na morte do corpo físico?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Como não? Pensa que está esquecido?...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sim. Por que não me visitam? Na Terra, sempre contei com a abnegação maternal. Minha mãe, entretanto, até agora não deu sinal de vida. Meu pai, igualmente, fez a grande viagem; três anos antes do meu trespasse.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Pois note - esclareceu Lísias -, sua mãe o tem ajudado dia e noite, desde a crise que antecipou sua vinda.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Quando se acamou para abandonar o casulo terrestre, duplicou-se o interesse maternal a seu respeito. Talvez não saiba ainda que sua permanência nas esferas inferiores durou mais de oito anos consecutivos. Ela jamais desanimou. Intercedeu, muitas vezes, em "Nosso Lar", a seu favor. Rogou os bons ofícios de Clarêncio, que começou a visitá-lo freqüentemente, até que o médico da Terra, vaidoso, se afastasse um tanto, a fim de surgir o filho dos Céus. Compreendeu?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Eu tinha os olhos úmidos. Ignorava o número de anos que me distanciavam da gleba terrestre. Desejei conhecer os processos de proteção imperceptível, mas não consegui. Minhas cordas vocais estavam entorpecidas, com o nó de lágrimas represadas no coração.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– No dia em que você orou com tanta alma - prosseguiu o enfermeiro visitador -, quando compreendeu que tudo no Universo pertence ao Pai Sublime, seu pranto era diferente. Não sabe que há chuvas que destroem e chuvas que criam? </span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Lágrimas há também, assim. É lógico que o Senhor não espera por nossas rogativas para nos amar; no entanto, é indispensável nos colocarmos em determinada posição receptiva, a fim de compreender-lhe a infinita bondade. Um espelho enfuscado não reflete a luz.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Desse modo, o Pai não precisa de nossas penitências, mas convenhamos que as penitências prestam ótimos serviços a nós mesmos. Entendeu?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Clarêncio não teve dificuldade em localizá-lo, atendendo aos apelos de sua carinhosa genitora da Terra; você, porém, demorou muito a encontrar Clarêncio. E quando sua mãezinha soube que o filho havia rasgado os véus escuros com o auxílio da oração, chorou de alegria, segundo me contaram...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– E onde está minha mãe? - exclamei, por fim. Se me é permitido, quero vê-la, abraçá-la, ajoelhar-me a seus pés!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não vive em "Nosso Lar" - esclareceu Lísias -, habita esferas mais altas, onde trabalha não somente por você.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Observando meu desapontamento, acrescentou, fraterno: – Virá vê-lo, por certo, antes mesmo do que pensamos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Quando alguém deseja algo ardentemente, já se encontra a caminho da realização. Tem você, nesse particular, a lição do próprio caso. Anos a fio rolou, como pluma, albergando o medo, as tristezas e desilusões; mas, quando mentalizou firmemente a necessidade de receber o auxílio Divino, dilatou o padrão vibratório da mente e alcançou visão e socorro.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Olhos brilhantes, encorajado pelo esclarecimento recebido, exclamei, resoluto:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Desejarei, então, com todas as minhas forças... ela virá... ela virá...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias sorriu com inteligência e, como quem previne, generoso, afirmou ao despedir-se:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Convém não esquecer, contudo, que a realização nobre exige três requisitos fundamentais, a saber: primeiro, desejar; segundo, saber desejar; e, terceiro, merecer, ou, por outros termos, vontade ativa, trabalho persistente e merecimento justo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O visitador ganhou a porta de saída, sorridente, enquanto eu me detinha silencioso, a meditar no extenso programa formulado em tão poucas palavras.</span><br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-79623007714828569592017-08-18T16:38:00.003-07:002017-09-04T16:11:09.550-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 8 - Organização De Serviços</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Decorridas algumas semanas de tratamento ativo, saí, pela primeira vez, em companhia de Lísias.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Impressionou-me o espetáculo das ruas. Vastas avenidas, enfeitadas de árvores frondosas. Ar puro, atmosfera de profunda tranqüilidade espiritual. Não havia, porém, qualquer sinal de inércia ou de ociosidade, porque as vias públicas estavam repletas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Entidades numerosas iam e vinham. Algumas pareciam situar a mente em lugares distantes, mas outras me dirigiam olhares acolhedores. Incumbia-se o companheiro de orientar-me em face das surpresas que surgiam ininterruptas.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Percebendo-me as íntimas conjeturas, esclareceu solícito:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Estamos no local do Ministério do Auxílio. Tudo o que vemos, edifícios, casas residenciais, representa instituições e abrigos adequados à tarefa de nossa jurisdição. Orientadores, operários e outros serviçais da missão residem aqui. Nesta zona, atende-se a doentes, ouvem-se rogativas, selecionam-se preces, preparam-se reencarnações terrenas, organizam-se turmas de socorro aos habitantes do Umbral, ou aos que choram na Terra, estudam-se soluções para todos os processos que se prendem ao sofrimento.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Há, então, em "Nosso Lar", um Ministério do Auxílio? - perguntei.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Como não? Nossos serviços são distribuídos numa organização que se aperfeiçoa dia a dia, sob a orientação dos que nos presidem os destinos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Fixando em mim os olhos lúcidos, prosseguiu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não tem visto, nos atos da prece, nosso Governador Espiritual cercado de setenta e dois colaboradores? Pois são os Ministros de "Nosso Lar". A colônia, que é essencialmente de trabalho e realização, divide-se em seis Ministérios, orientados, cada qual, por doze Ministros. Temos os Ministérios da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação, do Esclarecimento, da Elevação e da União Divina. Os quatro primeiros nos aproximam das esferas terrestres, os dois últimos nos ligam ao plano superior, visto que a nossa cidade espiritual é zona de transição. Os serviços mais grosseiros localizam-se no Ministério da Regeneração, os mais sublimes no da União Divina. Clarêncio, o nosso chefe amigo, é um dos Ministros do Auxílio.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Valendo-me da pausa natural, exclamei, comovido:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Oh! nunca imaginei a possibilidade de organizações tão completas, depois da morte do corpo físico!...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sim - esclareceu Lísias -, o véu da ilusão é muito denso nos círculos carnais. O homem vulgar ignora que toda manifestação de ordem, no mundo, procede do plano superior. A natureza agreste transforma-se em jardim, quando orientada pela mente do homem, e o pensamento humano, selvagem na criatura primitiva, transforma-se em potencial criador, quando inspirado pelas mentes que funcionam nas esferas mais altas. Nenhuma organização útil se materializa na crosta terrena, sem que seus raios iniciais partam de cima.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Mas "Nosso Lar" terá igualmente uma história, como as grandes cidades planetárias?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sem dúvida. Os planos vizinhos da esfera terráquea possuem, igualmente, natureza específica.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;"> "Nosso Lar" é antiga fundação de portugueses distintos, desencarnados no Brasil, no século XVI. A princípio, enorme e exaustiva foi a luta, segundo consta em nossos arquivos no Ministério do Esclarecimento. Há substâncias ásperas nas zonas invisíveis à Terra, tal como nas regiões que se caracterizam pela matéria grosseira. Aqui também existem enormes extensões de potencial inferior, como há, no planeta, grandes tratos de natureza rude e incivilizada. Os trabalhos primordiais foram desanimadores, mesmo para os espíritos fortes.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Onde se congregam hoje vibrações delicadas e nobres, edifícios de fino lavor, misturavam-se as notas primitivas dos silvícolas do país e as construções infantis de suas mentes rudimentares.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Os fundadores não desanimaram, porém. Prosseguiram na obra, copiando o esforço dos europeus que chegavam à esfera material, apenas com a diferença de que, por lá, se empregava a violência, a guerra, a escravidão, e, aqui, o serviço perseverante, a solidariedade fraterna, o amor espiritual.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A essa altura, atingíramos uma praça de maravilhosos contornos, ostentando extensos jardins. No centro da praça, erguia-se um palácio de magnificente beleza, encabeçado de torres soberanas, que se perdiam no céu.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Os fundadores da colônia começaram o esforço, partindo daqui, onde se localiza a Governadoria - disse o visitador.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Apontando o palácio, continuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Temos, nesta praça, o ponto de convergência dos seis ministérios a que me referi. Todos começam da Governadoria, estendendo-se em forma triangular.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E, respeitoso, comentou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Ali vive o nosso abnegado orientador. Nos trabalhos administrativos, utiliza ele a colaboração de três mil funcionários; entretanto, é ele o trabalhador mais infatigável e mais fiel que todos nós reunidos. Os Ministros costumam excursionar noutras esferas, renovando energias e valorizando conhecimentos; nós outros gozamos entretenimentos habituais, mas o Governador nunca dispõe de tempo para isso. Faz questão que descansemos, obriga-nos a férias periódicas, ao passo que, ele mesmo, quase nunca repousa, mesmo no que concerne às horas de sono. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Pareceme que a glória dele é o serviço perene. Basta lembrar que estou aqui há quarenta anos e, com exceção das assembléias referentes às preces coletivas, raramente o tenho visto em festividades públicas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Seu pensamento, porém, abrange todos os círculos de serviço, sua assistência carinhosa a tudo e a todos atinge.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Depois de longa pausa, o enfermeiro amigo acentuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não faz muito, comemorou-se o 114º aniversário da sua magnânima direção.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Calara-se Lísias, evidenciando comovida reverência, enquanto eu a seu lado contemplava, respeitoso e embevecido, as torres maravilhosas que pareciam cindir o firmamento...</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-47568845104534187032017-08-18T16:34:00.004-07:002017-09-04T16:05:14.332-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 9 - Problema De Alimentação</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Enlevado na visão dos jardins prodigiosos, pedi ao dedicado enfermeiro para descansar alguns minutos num banco próximo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias anuiu de bom grado.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Agradável sensação de paz me felicitava o espírito. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Caprichosos repuxos de água colorida ziguezagueavam no ar, formando figuras encantadoras.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Quem observa esta colméia imensa de serviço - ponderei - é induzido a examinar numerosos problemas. E o abastecimento?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não tenho notícia de um Ministério da Economia...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Antigamente - explicou o paciente interlocutor - os serviços dessa natureza assumiam feição mais destacada.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Deliberou, porém, o atual Governador atenuar todas as expressões de vida que nos recordassem os fenômenos puramente materiais.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">As atividades de abastecimento ficaram, assim, reduzidas a simples serviço de distribuição, sob o controle direto da Governadoria. Aliás, a providência constitui medida das mais benéficas. Rezam os anais que a colônia, há um século, lutava com extremas dificuldades para adaptar os habitantes às leis da simplicidade. Muitos recémchegados ao "Nosso Lar" duplicavam exigências. Queriam mesas lautas, bebidas excitantes, dilatando velhos vícios terrenos. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Apenas o Ministério da União Divina ficou imune de tais abusos, pelas características que lhe são próprias; no entanto, os demais viviam sobrecarregados de angustiosos problemas dessa ordem. O Governador atual, todavia, não poupou esforços.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Tão logo assumiu obrigações administrativas, adotou providências justas. Antigos missionários, daqui, puseram-me ao corrente de curiosos acontecimentos. Disseram-me que, a pedido da Governadoria, vieram duzentos instrutores de uma esfera muito elevada, a fim de espalharem novos conhecimentos, relativos à ciência da respiração e da absorção de princípios vitais da atmosfera. Realizaram-se assembléias numerosas. Alguns colaboradores técnicos de "Nosso Lar" manifestavam-se contrários, alegando que a cidade é de transição e que não seria justo, nem possível, desambientar imediatamente os homens desencarnados, mediante exigências desse teor, sem grave perigo para suas organizações espirituais. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">O Governador, contudo, não desanimou. Prosseguiram as reuniões, providências e atividades, durante trinta anos consecutivos. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Algumas entidades eminentes chegaram a formular protestos de caráter público, reclamando. Por mais de dez vezes, o Ministério do Auxílio esteve superlotado de enfermos, onde se confessavam vítimas do novo sistema de alimentação deficiente.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Nesses períodos, os opositores da redução multiplicavam acusações. O Governador, porém, jamais castigou alguém. Convocava os adversários da medida a palácio e expunha-lhes, paternalmente, os projetos e finalidades do regime; destacava a superioridade dos métodos de espiritualização, facilitava aos mais rebeldes inimigos do novo processo variadas excursões de estudo, em planos mais elevados que o nosso, ganhando, assim, maior número de adeptos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ante pausa mais longa, reclamei, interessado:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Continue, por favor, meu caro Lísias. Como terminou a luta edificante?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Depois de vinte e um anos de perseverantes demonstrações, por parte da Governadoria, aderiu o Ministério da Elevação, passando a abastecer-se apenas do indispensável. O mesmo não aconteceu com o Ministério do Esclarecimento, que demorou muito a assumir compromisso, em vista dos numerosos espíritos dedicados às ciências matemáticas, que ali trabalham. Eram eles os mais teimosos adversários. Mecanizados nos processos de proteínas e carboidratos, imprescindíveis aos veículos físicos, não cediam terreno nas concepções correspondentes daqui. Semanalmente, enviavam ao Governador longas observações e advertências, repletas de análises e numerações, atingindo, por vezes, a imprudência. O velho governante, contudo, nunca agiu por si só.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Requisitou assistência de nobres mentores, que nos orientam através do Ministério da União Divina, e jamais deixou o menor boletim de esclarecimento sem exame minucioso. Enquanto argumentavam os cientistas e a Governadoria contemporizava, formaram-se perigosos distúrbios no antigo Departamento de Regeneração, hoje transformado em Ministério.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Encorajados pela rebeldia dos cooperadores do Esclarecimento, os espíritos menos elevados que ali se recolhiam entregaram-se a condenáveis manifestações.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Tudo isso provocou enormes cisões nos órgãos coletivos de "Nosso Lar", dando ensejo a perigoso assalto das multidões obscuras do Umbral, que tentaram invadir a cidade, aproveitando brechas nos serviços de Regeneração, onde grande número de colaboradores entretinha certo intercâmbio clandestino, em virtude dos vícios de alimentação.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;"> Dado o alarme, o Governador não se perturbou. Terríveis ameaças pairavam sobre todos. Ele, porém, solicitou audiência ao Ministério da União Divina e, depois de ouvir o nosso mais alto Conselho, mandou fechar provisoriamente o Ministério da Comunicação, determinou funcionassem todos os calabouços da Regeneração, para isolamento dos recalcitrantes, advertiu o Ministério do Esclarecimento, cujas impertinências suportou mais de trinta anos consecutivos, proibiu temporariamente os auxílios às regiões inferiores e, pela primeira vez na sua administração, mandou ligar as baterias elétricas das muralhas da cidade, para emissão de dardos magnéticos a serviço da defesa comum. Não houve combate, nem ofensiva da colônia, mas resistência resoluta. Por mais de seis meses, os serviços de alimentação, em "Nosso Lar", foram reduzidos à inalação de princípios vitais da atmosfera, através da respiração, e água misturada a elementos solares, elétricos e magnéticos. A colônia ficou, então, sabendo o que vem a ser a indignação do espírito manso e justo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Findo o período mais agudo, a Governadoria estava vitoriosa. O próprio Ministério do Esclarecimento reconheceu o erro e cooperou nos trabalhos de reajustamento. Houve, nesse comenos, regozijo público e dizem que, em meio da alegria geral, o Governador chorou sensibilizado, declarando que a compreensão geral constituía o verdadeiro prêmio ao seu coração. A cidade voltou ao movimento normal. O antigo Departamento da Regeneração foi convertido em Ministério. Desde então, só existe maior suprimento de substâncias alimentícias que lembram a Terra, nos Ministérios da Regeneração e do Auxílio, onde há sempre grande número de necessitados. Nos demais há somente o indispensável, isto é, todo o serviço de alimentação obedece a inexcedível sobriedade.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Presentemente, todos reconhecem que a suposta impertinência do Governador representou medida de elevado alcance para nossa libertação espiritual. Reduziu-se a expressão física e surgiu maravilhoso coeficiente de espiritualidade.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias silenciou e eu me entreguei a profundos pensamentos sobre a grande lição.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-13370254153403742912017-08-18T16:29:00.003-07:002017-09-04T16:00:02.857-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 10 - No Bosque Das Águas</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Dado o meu interesse crescente pelos processos de alimentação,</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias convidou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Vamos ao grande reservatório da colônia. Lá observará coisas interessantes. Verá que a água é quase tudo em nossa estância de transição.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Curiosíssimo, acompanhei o enfermeiro sem vacilar.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Chegados a extenso ângulo da praça, o generoso amigo acrescentou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Esperemos o aeróbus.<span style="font-size: small;">2</span></span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Mal me refazia da surpresa, quando surgiu grande carro, suspenso do solo a uma altura de cinco metros mais ou menos e repleto de passageiros. Ao descer até nós, à maneira de um elevador terrestre, examinei-o com atenção. Não era máquina conhecida na Terra. Constituída de material muito flexível, tinha enorme comprimento, parecendo ligada a fios invisíveis, em virtude do grande número de antenas na tolda. Mais tarde, confirmei minhas suposições, visitando as grandes oficinas do Serviço de Trânsito e Transporte.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias não me deu tempo a indagações. Aboletados convenientemente no recinto confortável, seguimos Silenciosos. Experimentava a timidez natural do homem desambientado, entre desconhecidos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A velocidade era tanta que não permitia fixar os detalhes das construções escalonadas no extenso percurso. A distância não era pequena, porque só depois de quarenta minutos, incluindo ligeiras paradas de três em três quilômetros, me convidou Lísias a descer, sorridente e calmo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Deslumbrou-me o panorama de belezas sublimes. O bosque, em floração maravilhosa, embalsamava o vento fresco de inebriante perfume. Tudo em prodígio de cores e luzes cariciosas. Entre margens bordadas de grama viçosa, toda esmaltada de azulíneas flores, deslizava um rio de grandes proporções. A corrente rolava tranqüila, mas tão cristalina que parecia tonalizada em matiz celeste, em vista dos reflexos do firmamento.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Estradas largas cortavam a verdura da paisagem.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Plantadas a espaços regulares, árvores frondosas ofereciam sombra amiga, à maneira de pousos deliciosos, na claridade do Sol confortador. Bancos de caprichosos formatos convidavam ao descanso.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Notando o meu deslumbramento, Lísias explicou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Estamos no Bosque das Águas. Temos aqui uma das mais belas regiões de "Nosso Lar". Trata-se de um dos locais prediletos para as excursões dos amantes, que aqui vêm tecer as mais lindas promessas de amor e fidelidade, para as experiências da Terra.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A observação ensejava considerações muito interessantes, mas Lísias não me deu azo a perguntas nesse particular. Indicando um edifício de enormes proporções, esclareceu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Ali é o grande reservatório da colônia. Todo o volume do Rio Azul, que temos à vista, é absorvido em caixas imensas de distribuição. As águas que servem a todas as atividades da colônia partem daqui. Em seguida, reúnem-se novamente, abaixo dos serviços da Regeneração, e voltam a constituir o rio, que prossegue o curso normal, rumo ao grande oceano de substâncias invisíveis para a Terra.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Percebendo-me a indagação íntima, acrescentou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Com efeito, a água aqui tem outra densidade.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Muito mais tênue, pura, quase fluídica. Notando as magníficas construções que me fronteavam, interroguei:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– A que Ministério está afeto o serviço de distribuição?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Imagine - elucidou Lísias - que este é um dos raros serviços materiais do Ministério da União Divina!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Que diz? - perguntei, ignorando como conciliar uma e outra coisa.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O visitador sorriu e obtemperou prazenteiro:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Na Terra quase ninguém cogita seriamente de conhecer a importância da água. Em "Nosso Lar", contudo, outros são os conhecimentos. Nos círculos religiosos do planeta, ensinam que o Senhor criou as águas. Ora, é lógico que todo serviço criado precisa de energias e braços para ser convenientemente mantido.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Nesta cidade espiritual, aprendemos a agradecer ao Pai e aos seus Divinos colaboradores semelhante dádiva.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Conhecendo-a mais intimamente, sabemos que a água é veículo dos mais poderosos para os fluidos de qualquer natureza. Aqui, ela é empregada sobretudo como alimento e remédio. Há repartições no Ministério do Auxílio absolutamente consagradas à manipulação de água pura, com certos princípios suscetíveis de serem captados na luz do Sol e no magnetismo espiritual. Na maioria das regiões da extensa colônia, o sistema de alimentação tem aí suas bases.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Acontece, porém, que só os Ministros da União Divina são detentores do maior padrão de Espiritualidade Superior, entre nós,<br />cabendo-lhes a magnetização geral das águas do Rio Azul, a fim de que sirvam a todos os habitantes de "Nosso Lar", com a pureza imprescindível. Fazem eles o serviço inicial de limpeza e os institutos realizam trabalhos específicos, no suprimento de substâncias alimentares e curativas.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Quando os diversos fios da corrente se reúnem de novo, no ponto longínquo, oposto a este bosque, ausenta- se o rio de nossa zona, conduzindo em seu seio nossas qualidades espirituais. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Eu estava embevecido com as explicações.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– No planeta - objetei -, jamais recebi elucidações desta natureza.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– O homem é desatento, há muitos séculos - tornou Lísias -; o mar equilibra-lhe a moradia planetária, o elemento aquoso fornece-lhe o corpo físico, a chuva dá-lhe o pão, o rio organiza-lhe a cidade, a presença da água oferece-lhe a bênção do lar e do serviço; entretanto, ele sempre se julga o absoluto dominador do mundo, esquecendo que é filho do Altíssimo, antes de qualquer consideração.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Virá tempo, contudo, em que copiará nossos serviços, encarecendo a importância dessa dádiva do Senhor.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Compreenderá, então, que a água, como fluido criador, absorve, em cada lar, as características mentais de seus moradores. A água, no mundo, meu amigo, não somente carreia os resíduos dos corpos, mas também as expressões de nossa vida mental.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Será nociva nas mãos perversas, útil nas mãos generosas e, quando em movimento, sua corrente não só espalhará bênção de vida, mas constituirá igualmente um veículo da Providência Divina, absorvendo amarguras, ódios e ansiedades dos homens, lavando-lhes a casa material e purificando-lhes a atmosfera íntima.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Calou-se o interlocutor em atitude reverente, enquanto meus olhos fixavam a corrente tranqüila a despertar-me sublimes pensamentos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: small;">2 - Carro aéreo, que seria na Terra um grande funicular.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-18039758760989790822017-08-18T16:24:00.004-07:002017-09-04T15:56:48.348-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 11 - Notícias Do Plano</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Desejaria meu generoso companheiro facultar-me observações diferentes, nos diversos bairros da colônia, mas obrigações imperiosas chamavam-no ao posto.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Terá você ocasião de conhecer as diversas regiões dos nossos serviços - exclamou bondosamente - pois, conforme vê, os Ministérios do "Nosso Lar" são enormes células de trabalho ativo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Nem mesmo alguns dias de estudo oferecem ensejo à visão detalhada de um só deles. Não lhe faltará oportunidade, porém. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Ainda que me não seja possível acompanhá-lo, Clarêncio tem poderes para obter-lhe ingresso fácil em qualquer dependência.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Voltamos ao ponto de passagem do aeróbus, que não se fez esperar.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Agora, sentia-me quase à vontade. A presença de muitos passageiros não me constrangia. A experiência anterior fizera-me benefícios enormes. Esfervilhava-me o cérebro de úteis indagações.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Interessado em resolvê-las, aproveitei o minuto para valerme do companheiro, quando possível.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Lísias, amigo - perguntei -, poderá informar-me se todas as colônias espirituais são idênticas a esta? Os mesmos processos, as mesmas características?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– De modo algum. Se nas esferas materiais, cada região e cada estabelecimento revelam traços peculiares, imagine a multiplicidade de condições em nossos planos.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Aqui, tal como na Terra, as criaturas se identificam pelas fontes comuns de origem e pela grandeza dos fins que devem atingir; mas importa considerar que cada colônia, como cada entidade, permanece em degraus diferentes na grande ascensão. Todas as experiências de grupo diversificam-se entre si e "Nosso Lar" constitui uma experiência coletiva dessa natureza. Segundo nossos arquivos, muitas vezes os que nos antecederam buscaram inspiração nos trabalhos de abnegados trabalhadores de outras esferas; em compensação, outros agrupamentos buscam o nosso concurso para outras colônias em formação.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Cada organização, todavia, apresenta particularidades essenciais.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Observando que o intervalo se fazia mais longo, interroguei:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Partiu daqui a interessante formação de Ministérios?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sim, os missionários da criação de "Nosso Lar" visitaram os serviços de "Alvorada Nova", uma das colônias espirituais mais importantes que nos circunvizinham e ali encontraram a divisão por departamentos. Adotaram o processo, mas substituíram a palavra departamento por Ministério, com exceção dos serviços regeneradores, que, somente com o Governador atual, conseguiram elevação.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Assim procederam, considerando que a organização em Ministérios é mais expressiva, como definição de espiritualidade.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Muito bem! - acrescentei.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– E não é tudo - prosseguiu o enfermeiro, atencioso -, a instituição é eminentemente rigorosa, no que concerne à ordem e à hierarquia. Nenhuma condição de destaque é concedida aqui a título de favor. Somente quatro entidades conseguiram ingressar, com responsabilidade definida, no curso de dez anos, no Ministério da União Divina. Em geral, todos nós, decorrido longo estágio de serviço e aprendizado, voltamos a reencarnar, para atividades de aperfeiçoamento.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Enquanto eu ouvia essas informações, justamente curioso, Lísias continuava:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Quando os recém-chegados das zonas inferiores do Umbral se revelam aptos a receber cooperação fraterna, demoram no Ministério do Auxílio; quando, porém, se mostram refratários, são encaminhados ao Ministério da Regeneração. Se revelam proveito, com o correr do tempo são admitidos aos trabalhos de Auxílio, Comunicação e Esclarecimento, a fim de se prepararem, com eficiência, para futuras tarefas planetárias. Somente alguns conseguem atividade prolongada no Ministério da Elevação e raríssimos, em cada dez anos, os que alcançam intimidade nos trabalhos da União Divina. E não suponha que os testemunhos sejam vagas expressões de atividade idealista. Já não estamos na esfera do globo, onde o desencarnado é promovido compulsoriamente a fantasma. Vivemos em círculo de demonstrações ativas. As tarefas de Auxílio são laboriosas e complicadas, os deveres no Ministério da Regeneração constituem testemunhos pesadíssimos, os trabalhos na Comunicação exigem alta noção da responsabilidade individual, os campos do Esclarecimento requisitam grande capacidade de trabalho e valores intelectuais profundos, o Ministério da Elevação pede renúncia e iluminação, as atividades da União Divina requerem conhecimento justo e sincera aplicação do amor universal. A Governadoria, por sua vez, é sede movimentada de todos os assuntos administrativos, numerosos serviços de controle direto, como, por exemplo, o de alimentação, distribuição de energias elétricas, trânsito, transporte e outros. Aqui, em verdade, a lei do descanso é rigorosamente observada, para que determinados servidores não fiquem mais sobrecarregados que outros; mas a lei do trabalho é também rigorosamente cumprida. No que concerne ao repouso, a única exceção é o próprio Governador, que nunca aproveita o que lhe toca, nesse terreno.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Mas, nunca se ausenta ele do palácio? - interroguei.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Somente nas ocasiões que o bem público o exige.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">A não ser em obediência a esse imperativo, o Governador vai semanalmente ao Ministério da Regeneração, que representa a zona de "Nosso Lar" onde há maior número de perturbações, dada a sintonia de muitos dos seus abrigados com os irmãos do Umbral. Numerosas multidões de espíritos desviados ali se encontram recolhidas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Aproveita ele, pois, as tardes de domingo, depois de orar com a cidade no Grande Templo da Governadoria, para cooperar com os Ministros da Regeneração, atendendo-lhes os difíceis problemas de trabalho. Nesse mister, priva-se, às vezes, de alegrias sagradas, amparando a desorientados e sofredores.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Deixara-nos o aeróbus nas vizinhanças do hospital, onde me aguardava o aposento confortador.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Em plena via pública, ouviam-se, tal qual observara à saída, belas melodias atravessando o ar. Notando-me a expressão indagadora, Lísias explicou fraternalmente:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Essas músicas procedem das oficinas onde trabalham os habitantes de "Nosso Lar". Após consecutivas observações, reconheceu a Governadoria que a música intensifica o rendimento do serviço, em todos os setores de esforço construtivo. Desde então, ninguém trabalha em "Nosso Lar", sem esse estimulo de alegria.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Nesse ínterim, porém, chegáramos à Portaria. Atencioso enfermeiro adiantou-se e notificou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Irmão Lísias, chamam-no ao pavilhão da direita para serviço urgente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O companheiro afastou-se, calmo, enquanto eu me recolhia ao aposento particular, repleto de indagações íntimas.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-46247935021944051562017-08-18T16:19:00.002-07:002017-09-04T15:53:58.139-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 12 - O Umbral</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Após receber tão valiosas elucidações, aguçava-se-me o desejo de intensificar a aquisição de conhecimentos relativos a diversos problemas que a palavra de Lísias sugeria.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">As referências a espíritos do Umbral mordiam-me a curiosidade. A ausência de preparação religiosa, no mundo, dá motivo a dolorosas perturbações.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Que seria o Umbral? Conhecia, apenas, a idéia do inferno e do purgatório, através dos sermões ouvidos nas cerimônias católico- romanas a que assistira, obedecendo a preceitos protocolares.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Desse Umbral, porém, nunca tivera notícias.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ao primeiro encontro com o generoso visitador, minhas perguntas não se fizeram esperar. Lísias ouviu-me, atencioso, e replicou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Ora, ora, pois você andou detido por lá tanto tempo e não conhece a região?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Recordei os sofrimentos passados, experimentando arrepios de horror.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– O Umbral - continuou ele, solícito - começa na crosta terrestre.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Quando o espírito reencarna, promete cumprir o programa de serviços do Pai; entretanto, ao recapitular experiências no planeta, é muito difícil fazê-lo, para só procurar o que lhe satisfaça ao egoísmo. Assim é que mantidos são o mesmo ódio aos adversários e a mesma paixão pelos amigos.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Mas, nem o ódio é justiça, nem a paixão é amor.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Tudo o que excede, sem aproveitamento, prejudica a economia da vida. Pois bem: todas as multidões de desequilibrados permanecem nas regiões nevoentas, que se seguem aos fluidos carnais. O dever cumprido é uma porta que atravessamos no Infinito, rumo ao continente sagrado da união com o Senhor. É natural, portanto, que o homem esquivo à obrigação justa, tenha essa bênção indefinidamente adiada.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Notando-me a dificuldade para apreender todo o conteúdo do ensinamento, com vistas à minha quase total ignorância dos princípios espirituais, Lísias procurou tornar a lição mais clara:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Imagine que cada um de nós, renascendo no planeta, somos portadores de um fato sujo, para lavar no tanque da vida humana.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Essa roupa imunda é o corpo causal, tecido por nossas mãos, nas experiências anteriores.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Compartilhando, de novo, as bênçãos da oportunidade terrestre, esquecemos, porém, o objetivo essencial, e, ao invés de nos purificarmos pelo esforço da lavagem, manchamo- nos ainda mais, contraindo novos laços e encarcerando-nos a nós mesmos em verdadeira escravidão. Ora, se ao voltarmos ao mundo procurávamos um meio de fugir à sujidade, pelo desacordo de nossa situação com o meio elevado, como regressar a esse mesmo ambiente luminoso, em piores condições? O Umbral funciona, portanto, como região destinada a esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A imagem não podia ser mais clara, mais convincente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não havia como disfarçar minha justa admiração. Compreendendo o efeito benéfico que me traziam aqueles esclarecimentos, Lísias continuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– O Umbral é região de profundo interesse para quem esteja na Terra. Concentra-se, aí, tudo o que não tem finalidade para a vida superior. E note você que a Providência Divina agiu sabiamente, permitindo se criasse tal departamento em torno do planeta.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Há legiões compactas de almas irresolutas e ignorantes, que não são suficientemente perversas para serem enviadas a colônias de reparação mais dolorosa, nem bastante nobres para serem conduzidas a planos de elevação. Representam fileiras de habitantes do Umbral, companheiros imediatos dos homens encarnados, separados deles apenas por leis vibratórias. Não é de estranhar, portanto, que semelhantes lugares se caracterizem por grandes perturbações. Lá vivem, agrupam-se, os revoltados de toda espécie.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Formam, igualmente, núcleos invisíveis de notável poder, pela concentração das tendências e desejos gerais.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Muita gente da Terra não recorda que se desespera quando o carteiro não vem, quando o comboio não aparece? Pois o Umbral está repleto de desesperados. Por não encontrarem o Senhor à disposição dos seus caprichos, após a morte do corpo físico, e, sentindo que a coroa da vida eterna é a glória intransferível dos que trabalham com o Pai, essas criaturas se revelam e demoram em mesquinhas edificações. "Nosso Lar" tem uma sociedade espiritual, mas esses núcleos possuem infelizes, malfeitores e vagabundos de várias categorias. É zona de verdugos e vítimas, de exploradores e explorados.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Valendo-me da pausa, que se fizera espontânea, exclamei, impressionado:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Como explicar? Então não há por lá defesa, organização?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Sorriu o interlocutor, esclarecendo:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Organização é atributo dos espíritos organizados.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Que quer você? A zona inferior a que nos referimos é qual a casa onde não há pão: todos gritam e ninguém tem razão. O viajante distraído perde o comboio, o agricultor que não semeou não pode colher.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Uma certeza, porém, posso dar-lhe: - não obstante as sombras e angústias do Umbral, nunca faltou lá a proteção divina. Cada espírito lá permanece o tempo que se faça necessário. Para isso, meu amigo, permitiu o Senhor se erigissem muitas colônias como esta, consagradas ao trabalho e ao socorro espiritual.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">– Creio, então - observei -, que essa esfera se mistura quase com a esfera dos homens.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sim - confirmou o dedicado amigo -, e é nessa zona que se estendem os fios invisíveis que ligam as mentes humanas entre si.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O plano está repleto de desencarnados e de formas-pensamento dos encarnados, porque, em verdade, todo espírito, esteja onde estiver, é um núcleo irradiante de forças que criam, transformam ou destroem, exteriorizadas em vibrações que a ciência terrestre presentemente não pode compreender. Quem pensa, está fazendo alguma coisa alhures. E é pelo pensamento que os homens encontram no Umbral os companheiros que afinam com as tendências de cada um. Toda alma é um ímã poderoso. Há uma extensa humanidade invisível, que se segue à humanidade visível. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">As missões mais laboriosas do Ministério do Auxílio são constituídas por abnegados servidores, no Umbral, porque se a tarefa dos bombeiros nas grandes cidades terrenas é difícil, pelas labaredas e ondas de fumo que os defrontam, os missionários do Umbral encontram fluidos pesadíssimos emitidos, sem cessar, por milhares de mentes desequilibradas, na prática do mal, ou terrivelmente flageladas nos sofrimentos retificadores. É necessário muita coragem e muita renúncia para ajudar a quem nada compreende do auxílio que se lhe oferece.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Interrompera-se Lísias. Sumamente impressionado, exclamei:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Ah! como desejo trabalhar junto dessas legiões de infelizes, levando-lhes o pão espiritual do esclarecimento!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O enfermeiro amigo fixou-me bondosamente e, depois de meditar em silêncio, por largos instantes, acentuou, ao despedir-se:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Será que você se sente com o preparo indispensável a semelhante serviço? </span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-49386624573871230312017-08-18T16:13:00.003-07:002017-09-04T15:50:48.501-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 13 - No Gabinete Do Ministro</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Com as melhoras crescentes, surgia a necessidade de movimentação e trabalho. </span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Decorrido tanto tempo, esgotados anos difíceis de luta, volvia-me o interesse pelos afazeres que enchem o dia útil de todo homem normal, no mundo. Incontestável que havia perdido excelentes oportunidades na Terra; que muitas falhas me assinalavam o caminho. Agora, porém, recordava os quinze anos de clínica, sentindo um certo "vazio" no coração.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Identificava-me a mim mesmo, como vigoroso agricultor em pleno campo, de mãos atadas e impossibilitado de atacar o trabalho.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Cercado de enfermos, não podia aproximar-me, como noutros tempos, reunindo em mim o amigo, o médico e o pesquisador.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ouvindo gemidos incessantes nos apartamentos contíguos, não me era lícito nem mesmo a função de enfermeiro e colaborador nos casos de socorro urgente. Claro que não me faltava desejo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Minha posição ali, contudo, era assaz humilde para me atrever. Os médicos espirituais eram detentores de técnica diferente. No planeta, sabia que meu direito de intervir começava nos livros conhecidos e nos títulos conquistados; mas, naquele ambiente novo, a medicina começava no coração, exteriorizando-se em amor e cuidado fraternal.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Qualquer enfermeiro, dos mais simples, em "Nosso Lar", tinha conhecimentos e possibilidades muito superiores à minha ciência. Inexeqüível, portanto, qualquer tentativa de trabalho espontâneo, por constituir, a meu ver, invasão de seara alheia.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />No apuro de tais dificuldades, Lísias era o amigo indicado às minhas confidências de irmão.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Interpelado, esclareceu: – Por que não pedir o socorro de Clarêncio? Atendê-lo-á por certo. Peça-lhe conselhos. Ele pergunta sempre por sua pessoa e tudo fará a seu favor.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Animou-me grande esperança. Consultaria o Ministro do Auxílio.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Iniciando, contudo, as providências, fui informado de que o generoso benfeitor somente poderia atender na manhã seguinte, no gabinete particular.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Esperei ansioso o momento oportuno.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />No dia imediato, muito cedo, procurei o local indicado. Qual não foi, porém, minha surpresa vendo que três pessoas lá estavam aguardando Clarêncio, em identidade de circunstâncias!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O delicado Ministro do Auxílio chegara muito antes de nós e atendia a assuntos mais importantes que a recepção de visitas e solicitações.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Terminado o serviço urgente, começou a chamar-nos, dois a dois. Impressionou-me tal processo de audiência.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Soube, porém, mais tarde, que ele aproveitava esse método para que os pareceres fornecidos a qualquer interessado servissem igualmente a outros, assim atendendo a necessidades de ordem geral, ganhando tempo e proveito.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Decorridos muitos minutos, chegou-me a vez.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Penetrei no gabinete em companhia de uma senhora idosa, que seria ouvida em primeiro lugar, por ordem de precedência. O Ministro recebeu-nos, cordial, deixando-nos à vontade para discorrer.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Nobre Clarêncio - começou a companheira desconhecida -, venho pedir seus bons ofícios a favor de meus dois filhos. Ah! já não tolero tantas saudades e estou informada de que ambos vivem exaustos e sobrecarregados de infortúnios, no ambiente terrestre.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Reconheço que os desígnios do Pai são justos e amorosos; no entanto, sou mãe! Não consigo subtrair-me ao peso da angústia!...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E a pobre criatura se desfez, ali mesmo, em copioso pranto. O Ministro, dirigindo-lhe um olhar de fraternidade, embora conservando intacta a energia pessoal, respondeu, bondoso:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Mas, se a irmã reconhece que os desígnios do Pai são justos e santos, que me cabe fazer?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Desejava - replicou, aflita - que me concedesse recursos para protegê-los eu mesma, nas esferas do globo!...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Ah! minha amiga - disse o benfeitor amorável - só no espírito de humildade e de trabalho é possível a nós outros proteger alguém. Que me diz de um pai terrestre que desejasse ajudar os filhinhos, mantendo-se em absoluta quietação no conforto do lar?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O Pai criou o serviço e a cooperação como leis que ninguém pode trair sem prejuízo próprio. Nada lhe diz a consciência, neste sentido?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Quantos bônus-hora<span style="font-size: small;">3</span> poderá apresentar em benefício de sua pretensão?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A interpelada respondeu, hesitante:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Trezentos e quatro.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– É de lamentar - elucidou Clarêncio, sorrindo -, pois aqui se hospeda, há mais de seis anos, e apenas deu à colônia, até hoje, trezentos e quatro horas de trabalho. Entretanto, logo que se restabeleceu das lutas sofridas em região inferior, ofereci-lhe atividade louvável na Turma de vigilância, do Ministério da Comunicação...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Mas aquilo por lá era serviço intolerável - atalhou a interlocutora -, uma luta incessante contra entidades malfazejas.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Era natural que não me adaptasse. Clarêncio continuou, imperturbável:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Coloquei-a, depois, entre os Irmãos da Suportação, nas tarefas regeneradoras.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Pior! - exclamou a senhora - aqueles apartamentos andam repletos de pessoas imundas. Palavrões, indecências, miséria.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Reconhecendo suas dificuldades - esclareceu o Ministro -, enviei-a a cooperar na Enfermagem dos Perturbados.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Mas quem os tolerará, senão os santos? - inquiriu a pedinte rebelde - fiz o possível; entretanto, aquela multidão de almas desviadas assombra a qualquer!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não ficaram aí meus esforços - replicou o benfeitor sem se perturbar -, localizei-a nos Gabinetes de Investigações e Pesquisas do Ministério do Esclarecimento e, contudo, talvez enfadada com as minhas providências, a irmã se recolheu, deliberadamente, aos Campos de Repouso.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Era, também, impossível continuar ali - disse a impertinente -, só encontrei experiências exaustivas, fluidos estranhos, chefes ásperos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Pois note, minha amiga - esclareceu o devotado e seguro orientador -, o trabalho e a humildade são as duas margens do caminho do auxílio. Para ajudarmos alguém, precisamos de irmãos que se façam cooperadores, amigos, protetores e servos nossos. Antes de amparar os que amamos, é indispensável estabelecer correntes de simpatia.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Sem a cooperação é impossível atender com eficiência. O camponês que cultiva a terra alcança a<br />gratidão dos que saboreiam os frutos. O operário que entende os chefes exigentes, executando-lhes as determinações, representa o sustentáculo do lar, em que o Senhor o colocou. O servidor que obedece, construindo, conquista os superiores, companheiros e interessados no serviço. E nenhum administrador intermediário poderá ser útil aos que ama, se não souber servir e obedecer no bremente.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Fira-se o coração, experimente-se a dificuldade, mas, que saiba cada qual que o serviço útil pertence, acima de tudo, ao Doador Universal.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Depois de pequena pausa, continuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Que fará, pois, na Terra se não aprendeu ainda a suportar coisa alguma? Não duvido da sua dedicação aos filhos queridos, mas importa notar que haveria de comparecer por lá, como mãe paralítica, incapaz de prestar socorro justo. Para que qualquer de nós alcance a alegria de auxiliar os amados, faz-se necessária a interferência de muitos a quem tenhamos ajudado, por nossa vez.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Os que não cooperam não recebem cooperação. Isso é da lei eterna. E se minha irmã nada acumulou de seu para dar, é justo que procure a contribuição amorosa dos outros. Mas, como receber a colaboração imprescindível, se ainda não semeou, nem mesmo a simples simpatia? Volte aos Campos de Repouso, onde se abrigou ultimamente, e reflita.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Examinaremos depois o assunto com a devida atenção.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Sentou-se a mãe inquieta, enxugando lágrimas copiosas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Em seguida, o Ministro fitou-me compassivamente e falou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Aproxime-se, meu amigo!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Levantei-me, hesitante, para conversar.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: small;">3 Ponto relativo a cada hora de serviço. (Nota do Autor espiritual.)</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-8505396038715652992017-08-18T16:08:00.003-07:002017-09-04T15:46:30.160-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 14 - Elucidações De Clarêncio</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Pulsava-me precipite o coração, fazendo-me lembrar o aprendiz bisonho, diante de examinadores rigorosos. Vendo aquela mulher em lágrimas e ponderando a energia serena do Ministro do Auxílio, tremia dentro de mim mesmo, arrependido de haver provocado aquela audiência.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Não seria melhor calar, aprendendo a esperar deliberações superiores? Não seria presunção descabida pedir atribuições de médico naquela casa, onde permanecia como enfermo? A sinceridade de Clarêncio, para com a irmã que me antecedera, despertara-me raciocínios novos. Quis desistir, renunciar ao desejo da véspera e voltar ao aposento, mas, era impossível.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O Ministro do Auxílio, como se adivinhasse meus propósitos mais íntimos, exclamou em tom firme:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Pronto a ouvi-lo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ia solicitar instintivamente qualquer serviço médico em "Nosso Lar", embora a indecisão que me dominava; entretanto, a consciência me advertia: Por que referir-se a serviço especializado?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não seria repetir os erros humanos, dentro dos quais a vaidade não tolera outro gênero de atividade senão o correspondente aos preconceitos dos títulos nobiliárquicos, ou acadêmicos? Esta idéia equilibrava-me a tempo. Bastante confundido, falei:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Tomei a liberdade de vir até aqui, rogar seus bons ofícios para que me reintegre no trabalho. Ando saudoso dos meus misteres, agora que a generosidade do "Nosso Lar" me reconduziu à bênção da harmonia orgânica. Qualquer trabalho útil me interessa, desde que me afaste da inação.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Clarêncio fitou-me longamente, como a identificar-me as intenções mais íntimas. – Já sei. Verbalmente pede qualquer gênero de tarefa; mas, no fundo, sente falta dos seus clientes, do seu gabinete, da paisagem de serviço com que o Senhor honrou sua personalidade na Terra.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Até aí, as palavras dele eram jatos de conforto e esperança, que eu recebia no coração, com gestos confirmativos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Depois de uma pausa mais longa, porém, o Ministro prosseguiu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Convém notar, todavia, que às vezes o Pai nos honra com a Sua confiança e nós desvirtuamos os verdadeiros títulos de serviço.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Você foi médico na Terra, cercado de todas as facilidades, no capítulo dos estudos. Nunca soube o preço de um livro, porque seus pais, generosos, lhe custeavam todas as despesas. Logo depois de graduado, começou a receber proventos compensadores, não teve sequer as dificuldades do médico pobre, compelido a mobilizar relações afetivas para fazer clínica.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Prosperou tão rapidamente que transformou facilidades conquistadas em carreira para a morte prematura do corpo. Enquanto moço e sadio, cometeu numerosos abusos, dentro do quadro de trabalho a que Jesus o conduziu.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ante aquele olhar firme e bondoso ao mesmo tempo, estranha perturbação apossara-se de mim.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Respeitosamente, ponderei:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Reconheço a procedência das observações, mas, se possível, estimaria obter meios de resgatar meus débitos, consagrando-me sinceramente aos enfermos deste parque hospitalar.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Impulso muito nobre - disse Clarêncio sem austeridade -, contudo, é preciso convir que toda tarefa na Terra, no campo das profissões, é convite do Pai para que o homem penetre os templos Divinos do trabalho. O título, para nós, é simplesmente uma ficha; mas, no mundo, costuma representar uma porta aberta a todos os disparates. Com essa ficha, o homem fica habilitado a aprender nobremente e a servir ao Senhor, no quadro de Seus Divinos serviços no planeta. Tal princípio é aplicável a todas as atividades terrestres, excluída a convenção dos setores nos quais se desdobrem.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Meu irmão recebeu uma ficha de médico. Penetrou o templo da Medicina, mas sua ação, lá dentro, não se verificou em normas que me autorizem a endossar seus atuais desejos. Como transformá-lo, de um momento para outro, em médico de espíritos enfermos, quando fez questão de circunscrever observações exclusivamente à esfera do corpo físico? Não nego sua capacidade de excelente fisiologista, mas o campo da vida é muito extenso.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Que me diz de um botânico que alinhasse definições apenas com o exame das cascas secas de algumas árvores?</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Grande número de médicos, na Terra, prefere apenas a conclusão matemática diante dos serviços de anatomia. Concordemos que a Matemática é respeitável, mas não é a única ciência do Universo. Como reconhece agora, o médico não pode estacionar em diagnósticos e terminologias. Há que penetrar a alma, sondar-lhe as profundezas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Muitos profissionais da Medicina, no planeta, são prisioneiros das salas acadêmicas, porque a vaidade lhes roubou a chave do cárcere.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Raros conseguem atravessar o pântano dos interesses inferiores, sobrepor-se a preconceitos comuns e, para essas exceções, reservam-se as zombarias do mundo e o escárnio dos companheiros.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Fiquei atônito. Não conhecia tais noções de responsabilidade profissional. Assombrava-me a interpretação do título acadêmico, reduzido à ficha de ingresso em zonas de trabalho para cooperação ativa com o Senhor Supremo. Incapaz de intervir, aguardei que o Ministro do Auxílio retomasse o fio das elucidações.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Conforme deduz - continuou ele -, não se preparou convenientemente para os nossos serviços aqui.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Generoso benfeitor - atrevi-me a dizer -, compreendo a lição e curvo-me à evidência. E, fazendo esforço por conter as lágrimas, pedi, humilde:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Submeto-me a qualquer trabalho, nesta colônia de realização e paz.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Com um profundo olhar de simpatia, respondeu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Meu amigo, não possuo apenas verdades amargas.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;"> Tenho igualmente a palavra de estímulo. Não pode ainda ser médico em "Nosso Lar", mas poderá assumir o cargo de aprendiz, oportunamente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Sua posição atual não é das melhores; entretanto, é confortadora, pelas intercessões chegadas ao Ministério do Auxílio, a seu favor.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Minha mãe? - perguntei, inebriado de alegria.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sim - esclareceu o Ministro -, sua mãe e outros amigos, no coração dos quais você plantou a semente da simpatia. Logo após sua vinda, pedi ao Ministério do Esclarecimento providenciasse a obtenção de suas notas, que examinei atentamente.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Muita imprevidência, numerosos abusos e muita irreflexão, mas, nos quinze anos de sua clínica, também proporcionou receituário gratuito a mais de seis mil necessitados. Na maioria das vezes, praticou esses atos meritórios, absolutamente por troça; mas, presentemente, pode verificar que, mesmo por troça, o verdadeiro bem espalha bênçãos em nossos caminhos. Desses beneficiados, quinze não o esqueceram e têm enviado, até aqui, veementes apelos a seu favor.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Devo esclarecer, no entanto, que mesmo o bem que proporcionou aos indiferentes surge aqui a seu favor.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Concluindo, a sorrir, as elucidações surpreendentes, Clarêncio acentuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Aprenderá lições novas em "Nosso Lar" e, depois de experiências úteis, cooperará eficientemente conosco, preparando-se para o futuro infinito.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Sentia-me radiante. Pela primeira vez, chorei de alegria na colônia. Oh! Quem poderá entender, na Terra, semelhante júbilo?</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Por vezes, é preciso se cale o coração no grandiloqüente silêncio Divino.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-34699091584449366632017-08-18T16:03:00.002-07:002017-09-04T15:43:12.881-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 15 - A Visita Materna</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Atento às recomendações de Clarêncio, procurava reconstituir energias para recomeçar o aprendizado. Noutro tempo, talvez me sentisse ofendido com as observações aparentemente tão ríspidas; mas, naquelas circunstâncias, lembrava meus erros antigos e sentia-me confortado. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Os fluidos carnais compelem a alma a profundas sonolências. Em verdade, apenas agora reconhecia que a experiência humana, em hipótese alguma, poderia ser levada à conta de brincadeira. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">A importância da encarnação na Terra surgia- me aos olhos, evidenciando grandezas até então ignoradas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Considerando as oportunidades perdidas, reconhecia não merecer a hospitalidade de "Nosso Lar". Clarêncio tinha dobradas razões para falar-me com aquela franqueza.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Passei dias entregue a profundas reflexões sobre a vida. No íntimo, grande ansiedade de rever o lar terreno.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Abstinha-me, porém, de pedir novas concessões. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Os benfeitores do Ministério do Auxílio eram excessivamente generosos para comigo.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Adivinhavam- me os pensamentos. Se até ali não me haviam proporcionado satisfação espontânea a semelhante desejo, é que tal propósito não seria oportuno. Calava-me, então, resignado e algo triste.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias fazia o possível por alegrar-me com os seus pareceres consoladores. Eu estava, porém, nessa fase de recolhimento inexprimível, em que o homem é chamado para dentro de si mesmo,<br />pela consciência profunda.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Um dia, contudo, o bondoso visitador penetrou, radiante, no meu apartamento, exclamando:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Adivinhe quem chegou à sua procura!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Aquela fisionomia alegre, aqueles olhos brilhantes de Lísias, não me enganavam. – Minha mãe! - respondi, confiante.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Olhos arregalados de alegria, vi minha mãe entrar de braços estendidos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Filho! meu filho! Vem a mim, querido meu!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não posso dizer o que se passou então. Senti-me criança, como no tempo em que brincava à chuva, pés descalços, na areia do jardim. Abracei-me a ela carinhoso, chorando de júbilo, experimentando os mais sagrados transportes da ventura espiritual.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Beijei-a repetidas vezes, apertei-a nos braços, misturei minhas lágrimas com as suas lágrimas e não sei quanto tempo estivemos juntos, abraçados. Afinal, foi ela quem me despertou do enlevo, recomendando:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Vamos, filho, não te emociones tanto assim! A alegria também, quando excessiva, costuma castigar o coração.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E em vez de carregar minha adorada velhinha nos braços, como fazia na Terra, nos derradeiros tempos de sua romagem por lá, foi ela quem me enxugou o pranto copioso, conduzindo-me ao divã.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Estás ainda fraco, filhinho. Não desperdices energias.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Sentei-me a seu lado e ela, cuidadosamente, ajeitou-me a fronte cansada, em seus joelhos, afagando-me de leve, confortando-me à luz de santas recordações. Senti-me, então, o mais venturoso dos homens. Guardava a impressão de haver o barco de minha esperança ancorado em porto mais seguro. A presença maternal constituía infinito reconforto ao meu coração. Aqueles minutos davam-me a idéia de um sonho tecido em trama de felicidade indizível. Qual menino que procura detalhes, fixava-lhe as vestes, cópia perfeita de um dos seus velhos trajos caseiros.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Notando- lhe o vestido escuro, as meias de lã, a mantilha azul, contemplei a cabeça pequenina, aureolada a fios de neve, as rugas do rosto, o olhar doce e calmo de todos os dias. Mãos trêmulas de</span><br />
<span style="font-size: x-large;">contentamento, acariciava-lhe as mãos queridas, sem conseguir articular uma frase. Minha mãe, todavia, mais forte que eu, falou com serenidade:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Nunca saberemos agradecer a Deus tamanhas dádivas. O Pai jamais nos esquece, meu filho. Que longo tempo de separação!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não julgues, porém, que me houvesse esquecido. Às vezes, a Providência separa os corações, temporariamente, para que aprendamos o amor Divino.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Identificando-lhe a ternura de todos os tempos, senti que se me reavivavam as chagas terrenas. Oh! como é difícil alijar resíduos trazidos da Terra! Como pesa a imperfeição acumulada em séculos sucessivos! Quantas vezes ouvira conselhos salutares de Clarêncio, observações fraternais de Lísias, para renunciar às lamentações; mas, ao carinho maternal, como que se reabriam velhas feridas. Do pranto de alegria passei às lágrimas de angústia, relembrando exacerbadamente os trâmites terrestres. Não conseguia atinar que a visita não era para satisfação dos meus caprichos e sim preciosa bênção de acréscimo da misericórdia Divina. Copiando antigas exigências, concluí erroneamente que minha genitora deveria continuar como repositório de minhas queixas e males sem-fim. Na Terra, quase sempre, as mães não passam de escravas, no conceito dos filhos. Raros lhes entendem a dedicação antes de as perder. Na mesma falsa concepção de outros tempos, descambei para o terreno das confidências dolorosas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Minha mãe ouviu-me calada, deixando transparecer inexprimível melancolia. Olhos úmidos, aconchegando-me de quando em quando mais estreitamente ao coração, falou, carinhosa:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Oh! filho, não ignoro as instruções que o nosso generoso Clarêncio te ministrou. Não te queixes. Agradeçamos ao Pai a bênção desta reaproximação.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Sintamo-nos agora numa escola diferente, onde aprendemos a ser filhos do Senhor.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Na posição de mãe terrestre, nem sempre consegui orientar-te como convinha.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Também eu trabalho, pois, reajustando o coração.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Tuas lágrimas fazem-me voltar à paisagem dos sentimentos humanos. Alguma coisa tenta operar o retrocesso de minh’alma.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Quero dar razão aos teus lamentos, erigir-te um trono, qual se foras a melhor criatura do Universo; mas essa atitude, presentemente, não se coaduna com as novas lições da vida. Esses gestos são perdoáveis nas esferas da carne; aqui, porém, filho meu, é indispensável atender, antes de tudo, ao Senhor. Não és o único homem desencarnado a reparar os próprios erros, nem sou a única mãe a sentir-se distante dos entes amados.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Nossa dor, portanto, não nos edifica pelos prantos que vertemos, ou pelas feridas que sangram em nós, mas pela porta de luz que nos oferece ao espírito, a fim de sermos mais compreensivos e mais humanos. Lágrimas e úlceras constituem o processo de bendita extensão dos nossos mais puros sentimentos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Depois de longa pausa, em que a consciência profunda me advertia solene, minha mãe prosseguiu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Se é possível aproveitar estes minutos rápidos, em expansões de amor, por que desviá-los para a sombra das lamentações?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Regozijemo-nos, filho, e trabalhemos incessantemente. Modifica a atitude mental. Conforta-me tua confiança em meu carinho, experimento sublime felicidade em tua ternura filial, mas não posso retroceder nas minhas experiências. Amemo-nos, agora, com o grande e sagrado amor Divino.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Aquelas palavras benditas me despertaram.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Guardava a impressão de fluidos vigorosos que partiam do sentimento materno, vitalizando-me o coração. Minha mãe me contemplava desvanecida, mostrando belo sorriso. Ergui-me, respeitoso, e beijei-a na fronte, sentindo-a mais amorosa e mais bela que nunca.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-54257044307722021972017-08-18T15:58:00.003-07:002017-09-04T15:34:12.647-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 16 - Confidências</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Consolou-me a palavra maternal, reorganizando-me as energias<br />interiores. Minha mãe comentava o serviço como se fora uma bênção às dores e dificuldades, levando-as a crédito de alegrias e lições sublimes. Inesperado e inexprimível contentamento banhava- me o espírito. Aqueles conceitos alimentavam-me de estranho modo. Sentia-me outro, mais alegre, animado e feliz.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Oh! minha mãe! - exclamei comovido - deve ser maravilhosa a esfera da sua habitação! Que sublimes contemplações espirituais,<br />que ventura!.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ela esboçou um sorriso significativo e obtemperou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– A esfera elevada, meu filho, requer, sempre, mais trabalho, maior abnegação. Não suponhas que tua mãe permaneça em visões beatificas, a distância dos deveres justos. Devo fazer-te sentir, no entanto, que minhas palavras não representam qualquer nota de tristeza, na situação em que me encontro. É antes revelação de responsabilidade necessária. Desde que voltei da Terra, tenho trabalhado intensamente pela nossa renovação espiritual.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Muitas entidades, desencarnando, permanecem agarradas ao lar terrestre, a pretexto de muito amarem os que demoram no mundo carnal. Ensinaram-me aqui, todavia, que o verdadeiro amor, para transbordar em benefícios, precisa trabalhar sempre. Desde minha vinda, então, procuro esforçar-me por conquistar o direito de ajudar aqueles que tanto amamos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– E meu pai? - perguntei - onde está? Por que não veio com a<br />senhora?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Minha mãe estampou singular expressão no rosto e respondeu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">– Ah! teu pai! teu pai!... Há doze anos que está numa zona de trevas compactas, no Umbral. Na Terra, sempre nos parecera fiel às tradições da família, arraigado ao cavalheirismo do alto comércio, a cujos quadros pertenceu até ao fim da existência, e ao fervor do culto externo, em matéria religiosa; mas, no fundo, era fraco e mantinha ligações clandestinas, fora do nosso lar. </span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Duas delas estavam mentalmente ligadas a vasta rede de entidades maléficas, e, tão logo desencarnou o meu pobre Laerte, a passagem no Umbral lhe foi muito amarga, porque as desventuradas criaturas, a quem fizera muitas promessas, aguardavam-no ansiosas, prendendo- o de novo nas teias da ilusão. A princípio, ele quis reagir, esforçando-se por encontrar-me, mas não pôde compreender que após a morte do corpo físico a alma se encontra tal qual vive intrinsecamente. Laerte, portanto, não percebeu minha presença espiritual, nem a assistência desvelada de outros amigos nossos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Tendo gasto muitos anos a fingir, viciara a visão espiritual, restringira o padrão vibratório, e o resultado foi achar-se tão-só na companhia das relações que cultivara irrefletidamente, pela mente e pelo coração. Os princípios da família e o amor ao nosso nome ocuparam algum tempo o seu espírito. De algum modo, lutou, repelindo as tentações; mas caiu afinal, novamente enredado na sombra, por falta de perseverança no bom e reto pensamento.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Muitíssimo impressionado, perguntei:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não há, porém, meios de subtraí-lo a tais abjeções?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Ah! meu filho - elucidou a palavra materna -, eu o visito freqüentemente. Ele, porém, não me percebe. Seu potencial vibratório é ainda muito baixo. Tento atraí-lo ao bom caminho, pela inspiração, mas apenas consigo arrancar-lhe algumas lágrimas de arrependimento, de quando em quando, sem obter resoluções sérias. As infelizes, das quais se tornou prisioneiro, retiram-no às minhas sugestões. Venho trabalhando intensamente, anos a fio.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Solicitei o amparo de amigos em cinco núcleos diversos, de atividade espiritual mais elevada, inclusive aqui em "Nosso Lar".</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Certa vez, Clarêncio quase conseguiu atraí-lo ao Ministério da Regeneração, mas debalde. Não é possível acender luz em candeia sem óleo e sem pavio... Precisamos da adesão mental de Laerte, para conseguir levantá-lo e abrir-lhe a visão espiritual. No entanto, o pobrezinho permanece inativo em si mesmo, entre a indiferença e a revolta.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Depois de longa pausa, suspirou, continuando:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Talvez não saibas ainda que tuas irmãs Clara e Priscila vivem hoje igualmente no Umbral, agarradas à crosta da Terra. Sou compelida a atender às necessidades de todos. Meu único auxílio direto repousava na cooperação afetuosa de tua irmã Luísa, aquela que partiu quando eras pequenino. Luísa esperou-me aqui muitos anos, foi meu braço forte nos trabalhos ásperos de amparo à família terrena. Ultimamente, contudo, depois de lutar corajosa, a meu lado, em benefício de teu pai, de ti e das irmãs, tão grande é a perturbação dos nossos familiares, ainda na Terra, que voltou a semana passada, a fim de reencarnar entre eles, num gesto heróico de sublime renúncia.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Espero, pois, que te restabeleças breve, para que possamos desdobrar atividades no bem.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Assombravam-me as informações referentes a meu pai. Que espécie de lutas seriam as dele? Não parecia sincero praticante dos preceitos religiosos, não comungava todos os domingos?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Enlevado com a dedicação maternal, perguntei:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– A senhora, entretanto, auxilia o papai, não obstante a ligação dele com essas mulheres infames?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não as classifiques assim; - ponderou minha mãe - dize, antes, meu filho, nossas irmãs doentes, ignorantes ou infelizes. São filhas de nosso Pai, igualmente. Não tenho feito intercessões apenas por Laerte, mas por elas também, e estou convencida de haver encontrado recursos para atraí-los todos ao meu coração.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Espantou-me a grande manifestação de renúncia. Pensei subitamente em minha família direta. Senti o velho apego à esposa e aos filhos queridos. Perante Clarêncio e Lísias, deliberava sempre recalcar sentimentos e calar indagações; mas o olhar materno encorajava-me. Alguma coisa me fazia sentir que minha mãe não se demoraria muito tempo a meu lado. Aproveitando o minuto que corria célere, interroguei:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– A senhora, que tem acompanhado o papai devotadamente, nada poderá informar relativamente a Zélia e às crianças? Aguardo, ansioso, o instante de voltar a casa, a fim de auxiliá-los. Oh! minhas imensas saudades devem ser igualmente compartilhadas por eles! Como deve sofrer minha desventurada esposa com esta separação!...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Minha mãe esboçou um sorriso triste e acrescentou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Tenho visitado meus netos periodicamente. Vão bem.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E, depois de meditar alguns instantes, acentuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não deves, porém, inquietar-te com o problema de auxílio à família. Prepara-te, em primeiro lugar, para que sejamos bem sucedidos; há questões que precisamos entregar ao Senhor, em pensamento, antes de trabalhar na solução que elas requerem.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Quis insistir no assunto para colher pormenores, mas minha mãe não reincidiu nele, esquivando-se, delicada. A palestra estendeu- se ainda longa, envolvendo-me em sublime conforto. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Mais tarde, ela despediu-se. Curioso por saber como vivia até ali, pedi permissão para acompanhá-la. Afagou-me então, carinhosa, e disse:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não venhas, meu filho. Esperam-me com urgência no Ministério da Comunicação, onde serei munida de recursos fluídicos para a jornada de regresso, nos gabinetes transformatórios. Além disso, preciso ainda avistar- me com o Ministro Célio, para agradecer a oportunidade desta visita. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">E, deixando-me n'alma duradoura impressão de felicidade, beijou-me e partiu.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-61139391200775515212017-08-18T15:54:00.001-07:002017-09-04T15:30:15.348-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 17 - Em Casa De Lísias</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Não se passaram muitos dias, após a inesperada visita de minha mãe, quando Lísias me veio buscar, a chamado do Ministro Clarêncio. Segui-o, surpreso.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Recebido amavelmente pelo magnânimo benfeitor, esperava-lhe as ordens com enorme prazer.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Meu amigo - disse, afável -, doravante está autorizado a fazer observações nos diversos setores de nossos serviços, com exceção dos Ministérios de natureza superior.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Henrique de Luna deu por terminado seu tratamento, na semana última, e é justo, agora, aproveite o tempo observando e aprendendo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Olhei para Lísias, como irmão que devia participar da minha felicidade indizível, naquele instante. O enfermeiro correspondeume ao olhar com intenso júbilo. Não cabia em mim de contente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Era o início de vida nova. De alguma sorte, poderia trabalhar, ingressando em escolas diferentes. Clarêncio, que parecia perceber minha intraduzível ventura, acentuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Tornando-se dispensável sua permanência no parque hospitalar, examinarei atentamente a possibilidade de sua localização em ambiente novo. Consultarei alguma de nossas instituições...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias, porém, cortou-lhe a palavra, exclamando:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Se possível, estimaria recebê-lo em nossa casa, enquanto perdurar o curso de observações; lá, minha mãe o trataria como filho.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Fitei o visitador num transporte de alegria. Clarêncio, por sua vez, também lhe endereçou um olhar de aprovação, murmurando:</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">– Muito bem, Lísias! Jesus alegra-se conosco, sempre que recebemos um amigo no coração.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Abracei o prestativo enfermeiro, sem poder traduzir meu agradecimento.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A alegria às vezes nos emudece.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Guarde este documento - disse-me o atencioso Ministro do Auxílio, entregando-me pequena caderneta -, com ele, poderá ingressar nos Ministérios da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação e do Esclarecimento, durante um ano.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;"> Decorrido esse tempo, veremos o que será possível fazer relativamente aos seus desejos. Instrua-se, meu caro. Não perca tempo. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">O interstício das experiências carnais deve ser bem aproveitado.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias deu-me o braço e saí, enlevado de prazer.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Passados minutos, eis-nos à porta de graciosa construção, cercada de colorido jardim.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– É aqui - exclamou o delicado companheiro.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E, com expressão carinhosa, acrescentou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– O nosso lar, dentro de "Nosso Lar".</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ao tinido brando da campainha no interior, surgiu à porta simpática matrona.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Mãe! Mãe!... - gritou o enfermeiro, apresentando-me alegremente - este é o irmão que prometi trazer-te.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Seja bem-vindo, amigo! - exclamou a senhora, nobremente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Esta casa é sua.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E abraçando-me:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Soube que sua mamãe não vive aqui. Nesse caso, terá em mim uma irmã, com funções maternais.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não sabia como agradecer a generosa hospitalidade. Ia ensaiar algumas frases, para demonstrar minha comoção e reconhecimento, mas a nobre matrona, revelando singular bom humor, adiantou-se, adivinhando-me os pensamentos:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Está proibido de falar em agradecimentos. Não o faça. Obrigar-me-ia a lembrar, de repente, muitas frases convencionais da Terra...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Rimo-nos todos e murmurei, comovido:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Que o Senhor traduza meu agradecimento a todos em renovadas bênçãos de alegria e paz.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Entramos. Ambiente simples e acolhedor. Móveis quase idênticos aos terrestres; objetos em geral, demonstrando pequeninas variantes. Quadros de sublime significação espiritual, um piano de notáveis proporções, descansando sobre ele grande harpa talhada em linhas nobres e delicadas. Identificando-me a curiosidade,</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias falou, prazenteiro:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Como vê, depois do sepulcro não encontrou ainda os anjos harpistas; mas aí temos uma harpa esperando por nós mesmos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Oh! Lísias - atalhou a palavra materna, carinhosa -, não faças ironia. Não te recordas como o Ministério da União Divina recebeu o pessoal da Elevação, no ano passado, quando passaram por aqui alguns embaixadores da Harmonia?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sim, mamãe; mas quero apenas dizer que os harpistas existem, e precisamos criar audição espiritual, para ouvi-los, esforçando-nos, por nossa vez, no aprendizado das coisas Divinas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Em seguida aos conceitos obrigatórios de apresentação, com que relacionei minha procedência, vim a saber que a família de Lísias vivera em antiga cidade do Estado do Rio de Janeiro; que sua mãe chamava-se Laura e que, em casa, tinha consigo duas irmãs, Iolanda e Judite.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Respirava-se, ali, doce e reconfortante intimidade.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Não conseguia disfarçar meu contentamento e enorme alegria. Aquele primeiro contacto com a organização doméstica na colônia, enlevava-<br />me. A hospitalidade, cheia de ternura, arrancava-me ao espírito notas de profunda emoção.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Em face do tiroteio de perguntas, Iolanda exibiu-me livros maravilhosos. Notando-me o interesse, a dona da casa advertiu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Temos em "Nosso Lar", no que concerne à literatura, uma enorme vantagem; é que os escritores de má-fé, os que estimam o veneno psicológico, são conduzidos imediatamente para as zonas obscuras do Umbral. Por aqui não se equilibram, nem mesmo no Ministério da Regeneração, enquanto perseveram em semelhante estado d’alma.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não pude deixar de sorrir, continuando a observar os primores da arte fotográfica, nas páginas sob meus olhos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Em seguida, chamou-me Lísias para ver algumas dependências da casa, demorando-me na Sala de Banho, cujas instalações interessantes me maravilharam. Tudo simples, mas confortável.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não voltara a mim da admiração que me empolgava, quando a senhora Laura convidou à oração.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Sentamo-nos, silenciosos, em torno de grande mesa.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ligado um grande aparelho, fez-se ouvir música suave. Era o louvor do momento crepuscular. Surgiu, ao fundo, o mesmo quadro prodigioso da Governadoria, que eu nunca me cansava de contemplar todas as tardes, no parque hospitalar.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Naquele momento, porém, sentia-me dominado de profunda e misteriosa alegria. E vendo o coração azul desenhado ao longe, senti que minh’alma se ajoelhava no templo interior, em sublimes transportes de júbilo e reconhecimento.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-5316586742479351462017-08-18T15:50:00.001-07:002017-09-04T15:27:30.843-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 18 - Amor, Alimento Das Almas</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Terminada a oração, chamou-nos à mesa a dona da casa, servindo caldo reconfortante e frutas perfumadas, que mais pareciam concentrados de fluidos deliciosos. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Eminentemente surpreendido, ouvi a senhora Laura observar com graça:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Afinal, nossas refeições aqui são muito mais agradáveis que na Terra. Há residências, em "Nosso Lar", que as dispensam quase por completo; mas, nas zonas do Ministério do Auxílio, não podemos prescindir dos concentrados fluídicos, tendo em vista os serviços pesados que as circunstâncias impõem.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Despendemos grande quantidade de energias. É necessário renovar provisões de<br />força.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Isso, porém - ponderou uma das jovens -, não quer dizer que somente nós, os funcionários do Auxílio e da Regeneração, vivamos a depender de alimentos. Todos os Ministérios, inclusive o da União Divina, não os dispensam, diferindo apenas a feição substancial. Na Comunicação e no Esclarecimento há enorme dispêndio de frutos. Na Elevação o consumo de sucos e concentrados não é reduzido e, na União Divina, os fenômenos de alimentação atingem o inimaginável.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Meu olhar indagador ia de Lísias para a Senhora Laura, ansioso de explicações imediatas. Sorriam todos da minha natural perplexidade, mas a mãe de Lísias veio ao encontro dos meus desejos, explicando:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Nosso irmão talvez ainda ignore que o maior sustentáculo das criaturas é justamente o amor. De quando em quando, recebemos em "Nosso Lar" grandes comissões de instrutores, que ministram ensinamentos relativos à nutrição espiritual. Todo sistema de alimentação, nas variadas esferas da vida, tem no amor a base profunda. O alimento físico, mesmo aqui, propriamente considerado, é simples problema de materialidade transitória, como no caso dos veículos terrestres, necessitados de colaboração da graxa e do óleo. A alma, em si, apenas se nutre de amor. Quanto mais nos elevarmos no plano evolutivo da Criação, mais extensamente conheceremos essa verdade. Não lhe parece que o amor Divino seja o cibo do Universo?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Tais elucidações confortavam-me sobremaneira. Percebendo-me a satisfação íntima, Lísias interveio, acentuando:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Tudo se equilibra no amor infinito de Deus e, quanto mais evolvido o ser criado, mais sutil o processo de alimentação. O verme, no subsolo do planeta, nutre-se essencialmente de terra. O grande animal colhe na planta os elementos de manutenção, a exemplo da criança sugando o seio materno. O homem colhe o fruto do vegetal, transforma-o segundo a exigência do paladar que lhe é próprio e serve-se dele à mesa do lar. Nós outros, criaturas desencarnadas, necessitamos de substâncias suculentas, tendentes à condição fluídica, e o processo será cada vez mais delicado, à medida que se intensifique a ascensão individual.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não esqueçamos, todavia, a questão dos veículos - acrescentou a senhora Laura -, porque, no fundo, o verme, o animal, o homem e nós dependemos absolutamente do amor.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Todos nos movemos nele e sem ele não teríamos existência.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– É extraordinário! - aduzi, comovido.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não se lembra do ensino evangélico do "amai-vos uns aos outros"? - prosseguiu a mãe de Lísias atenciosa - Jesus não preceituou esses princípios objetivando tão-somente os casos de caridade, nos quais todos aprenderemos, mais dia menos dia, que a<br />prática do bem constitui simples dever.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Aconselhava-nos, igualmente, a nos alimentarmos uns aos outros, no campo da fraternidade e da simpatia. O homem encarnado saberá, mais tarde, que a conversação amiga, o gesto afetuoso, a bondade recíproca, a confiança mútua, a luz da compreensão, o interesse fraternal - patrimônios que se derivam naturalmente do amor profundo - constituem sólidos alimentos para a vida em si.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Reencarnados na Terra, experimentamos grandes limitações; voltando para cá, entretanto, reconhecemos que toda a estabilidade da alegria é problema de alimentação puramente espiritual.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Formam-se lares, vilas, cidades e nações em obediência a imperativos tais.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Recordei instintivamente as teorias do sexo, largamente divulgadas no mundo; mas, adivinhando-me talvez os pensamentos, a senhora Laura sentenciou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– E ninguém diga que o fenômeno é simplesmente sexual. O sexo é manifestação sagrada desse amor universal e Divino, mas é apenas uma expressão isolada do potencial infinito. </span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Entre os casais mais espiritualizados, o carinho e a confiança, a dedicação e o entendimento mútuos permanecem muito acima da união física, reduzida, entre eles, a realização transitória.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">A permuta magnética é o fator que estabelece ritmo necessário à manifestação da harmonia. Para que se alimente a ventura, basta a presença e, às vezes, apenas a compreensão.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Valendo-se da pausa, Judite acrescentou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Aprendemos em "Nosso Lar" que a vida terrestre se equilibra no amor, sem que a maior parte dos homens se aperceba.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Almas gêmeas, almas irmãs, almas afins, constituem pares e grupos numerosos. Unindo-se umas às outras, amparando-se mutuamente, conseguem equilíbrio no plano de redenção. Quando, porém, faltam companheiros, a criatura menos forte costuma sucumbir em meio da jornada.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Como vê, meu amigo - objetou Lísias contente -, ainda aqui é possível relembrar o Evangelho do Cristo. "Nem só de pão vive o homem." Antes, porém, de se alinharem novas considerações, tiniu a campainha fortemente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Levantou-se o enfermeiro para atender.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Dois rapazes de fino trato entraram na sala.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Aqui tem - disse Lísias, dirigindo-se a mim gentilmente – nossos irmãos Polidoro e Estácio, companheiros de serviço no Ministério do Esclarecimento.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Saudações, abraços, alegria.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Decorridos momentos, a senhora Laura falou sorridente:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Todos vocês trabalharam muito hoje. Utilizaram o dia com proveito. Não estraguem o programa afetivo, por nossa causa. Não esqueçam a excursão ao Campo da Música.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Notando a preocupação de Lísias, advertiu a palavra materna:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Vai, meu filho. Não faças Lascínia esperar tanto.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;"> Nosso irmão ficará em minha companhia, até que te possa acompanhar nesses entretenimentos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não se incomode por mim - exclamei, instintivamente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A senhora Laura, porém, esboçou amável sorriso e respondeu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não poderei compartilhar das alegrias do Campo, ainda hoje.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Temos em casa minha neta convalescente, que voltou da Terra há poucos dias.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Saíram todos, em meio do júbilo geral. A dona da casa, fechando a porta, voltou-se para mim e explicou sorridente:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Vão em busca do alimento a que nos referíamos.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Os laços afetivos, aqui, são mais belos e mais fortes. O amor, meu amigo, é o pão Divino das almas, o pábulo sublime dos corações.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-21675764586355425962017-08-18T15:45:00.006-07:002017-09-04T15:23:36.556-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 19 - A Jovem Desencarnada</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">– Sua neta não vem à mesa para as refeições?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;"> - perguntei à dona da casa, ensaiando palestra mais íntima.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Por enquanto, alimenta-se a sós - esclareceu dona Laura -, a tolinha continua nervosa, abatida. Aqui, não trazemos à mesa qualquer pessoa que se manifeste perturbada ou desgostosa. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">A neurastenia e a inquietação emitem fluidos pesados e venenosos, que se misturam automaticamente às substâncias alimentares.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Minha neta demorou-se no Umbral quinze dias, em forte sonolência, assistida por nós. Deveria ingressar nos pavilhões hospitalares, mas, afinal, veio submeter-se aos meus cuidados diretos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Manifestei desejo de visitar a recém-chegada do planeta. Seria muito interessante ouvi-la. Há quanto tempo estava sem notícias diretas da existência comum?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A senhora Laura não se fez rogada quando lhe dei a conhecer meu desejo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Demandamos um quarto confortável e muito amplo. Uma jovem muito pálida repousava em cômoda poltrona. Surpreendeu-se vivamente ao ver-me.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Este amigo, Eloísa - explicou a genitora de Lísias, indicando-me -, é um irmão nosso que voltou da esfera física, há pouco<br />tempo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A moça fitou-me curiosa, embora os olhos perdidos nas fundas olheiras traduzissem grande esforço para concentrar atenção.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Cumprimentou-me, esboçando vago sorriso, dando-me eu a conhecer, por minha vez.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Deve estar cansada - observei. Antes, porém, que ela respondesse, adiantou-se a senhora Laura, procurando subtraí-la a esforços sobreposse fatigantes:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Eloísa tem estado inquieta, aflita. Em parte, justifica-se. A tuberculose foi longa e deixou-lhe traços profundos; entretanto, não se pode prescindir, a tempo algum, do otimismo e da coragem.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Vi a jovem arregalar os olhos muito negros, como a reter o pranto, mas em vão. O tórax começou a arfar-lhe violentamente e, colando o lenço ao rosto, não conseguia conter os soluços angustiosos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Tolinha! - disse a meiga senhora abraçando-a - é necessário reagir contra isso. Estas impressões são os resultados da educação religiosa deficiente, nada mais. Sabes que tua mãe não se demorará e que não podes contar com a fidelidade do noivo, que, de modo algum, está preparado a te oferecer uma sincera dedicação espiritual na Terra. Ele ainda está longe do espírito sublime do amor iluminado.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Naturalmente, desposará outra e deves habituarte a esta convicção. Nem seria justo exigir-lhe a vinda brusca.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Sorrindo maternalmente, a senhora Laura acrescentou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Admitamos que viesse, forçando a lei. Não seria mais duro o sofrimento? Não pagarias caro a cooperação que houvesses desenvolvido nesse particular? Não te faltarão amizades carinhosas, nem colaboração fraternal, para que te equilibres aqui. E se amas, de fato, o rapaz, deves procurar harmonia para beneficiá-lo mais tarde. Além disso, tua mãe não tarda a chegar.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Penalizou-me o pranto copioso da jovem. Procurei estabelecer novo rumo à conversação, tentando subtraí-la à crise de lágrimas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Donde vem você, Eloísa? - interroguei.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A mãe de Lísias, agora calada, parecia igualmente desejosa de vê-la desembaraçar-se. Após longos instantes em que enxugava os olhos lacrimosos, a moça respondeu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Do Rio de Janeiro.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Mas não deve chorar assim - objetei. Você é muito feliz.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Desencarnou há poucos dias, está com os seus parentes e não conheceu tempestades na grande viagem...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ela pareceu reanimar-se, falando mais calma:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não imagina, porém, quanto tenho sofrido. Oito meses de luta com a tuberculose, não obstante os tratamentos... a mágoa de haver transmitido a moléstia a minha carinhosa mãe... Além disso, o que padeceu por minha causa o pobre noivo, é inenarrável...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Ora, ora, não diga isso - observou a senhora Laura a sorrir.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Na Terra temos sempre a ilusão de que não há dor maior que a nossa. Pura cegueira: há milhões de criaturas afrontando situações verdadeiramente cruéis, comparadas às nossas experiências.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Arnaldo, porém, vovó, ficou sem consolo, desesperado. Tudo isso dá que pensar - acentuou contrafeita.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– E acreditas sinceramente nessa impressão? - perguntou a matrona com inflexão de carinho. Observei teu ex-noivo, diversas vezes, no curso da tua enfermidade. Era natural que ele se comovesse tanto, vendo-te o corpo reduzido a frangalhos; mas não está preparado para compreender um sentimento puro. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Reconfortarse-á muito depressa. Amor iluminado não é para qualquer criatura humana. Conserva, portanto, o teu otimismo. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Poderás auxiliá-lo, sem dúvida, muitas vezes, mas no que concerne à união conjugal, quando puderes excursionar às esferas do planeta, em nossa companhia, já o encontrarás casado com outra.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Admirado por minha vez, notei a surpresa dolorosa de Eloísa.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não sabia a convalescente como portar-se ante a serenidade e o bom senso da avó. – Será possível?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A genitora de Lísias esboçou um gesto extremamente carinhoso e falou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não sejas teimosa, nem tentes desmentir-me.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Vendo que a enferma parecia tomar a atitude íntima de quem deseja provas, a senhora Laura insistiu, muito meiga:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não te recordas da Maria da Luz, a colega que te levava flores todos os domingos? Pois nota: quando o médico anunciou, em caráter confidencial, a impossibilidade de restabelecer-te o corpo físico, Arnaldo, embora muito magoado, começou a envolvê-la em vibrações mentais diferentes. Agora que aqui estás, não demorarão muito as resoluções novas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ah! que horror, vovó!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Horror, por quê? É preciso te habituares a considerar as necessidades alheias. Teu noivo é homem comum, não está alertado para as belezas sublimes do amor espiritual. Não podes operar milagres nele, por muito que o ames. A descoberta de si mesmo é apanágio de cada um.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Arnaldo conhecerá mais tarde a beleza do teu idealismo; mas, por agora, é preciso entregá-lo às experiências de que necessita.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não me conformo! - clamou a jovem, chorando - justamente Maria da Luz, a amiga que sempre julguei fidelíssima.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A senhora Laura, todavia, sorriu e falou, cautelosa:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não será, porém, mais agradável confiá-lo aos cuidados de uma criatura irmã? Maria da Luz será sempre tua amiga espiritual, ao passo que outra mulher talvez te dificultasse, mais tarde, o acesso ao coração dele.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Eu estava eminentemente surpreendido. Eloísa prorrompera em soluços. A bondosa senhora percebeu-me a intranqüilidade e, no propósito talvez de orientar tanto a neta quanto a mim, esclareceu sensatamente:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sei a causa do teu pranto, filhinha: nasce da terra inculta do nosso milenário egoísmo, da nossa renitente vaidade humana.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Entretanto, a vovó não te fala para ferir, mas para acordar.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Enquanto Eloísa chorava, a mãe de Lísias convidou-me novamente à sala de estar, considerando que a doente necessitava de repouso.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ao sentarmo-nos, falou em tom confidencial:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Minha neta chegou profundamente fatigada.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Prendeu o coração, demasiadamente, nas teias do amor-próprio. A rigor, o lugar dela seria em qualquer dos nossos hospitais; entretanto, o Assistente Couceiro julgou melhor situá-la junto ao nosso carinho.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Isso, aliás, é muito do meu agrado, porque minha querida Teresa, sua mãe, está a chegar. Um pouco de paciência e atingiremos a solução justa. Questão de tempo e serenidade.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-77624786461131588592017-08-18T15:40:00.002-07:002017-09-04T15:20:27.996-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 20 - Noções De Lar</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Desejando colher valores educativos que fluíam naturalmente da palestra da senhora Laura, perguntei, curioso:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Desempenhando tantos deveres, a senhora ainda tem atribuições fora de casa?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sim; vivemos numa cidade de transição; no entanto, as finalidades da colônia residem no trabalho e no aprendizado. As almas femininas, aqui, assumem numerosas obrigações, preparando-se para voltar ao planeta ou para ascender a esferas mais altas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Mas a organização doméstica, em "Nosso Lar", é idêntica à da Terra?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A interlocutora esboçou uma fácies muito significativa e acrescentou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– O lar terrestre é que, de há muito, se esforça por copiar nosso instituto doméstico; mas os cônjuges por lá, com raras exceções, estão ainda a moldar o terreno dos sentimentos, invadido pelas ervas amargosas da vaidade pessoal e povoado de monstros do ciúme e do egoísmo. Quando regressei do planeta, pela última vez, trazia, como é natural, profundas ilusões.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Coincidiu, porém, que, na minha crise de orgulho ferido, fui levada a ouvir um grande instrutor, no Ministério do Esclarecimento. Desde esse dia, nova corrente de idéias me penetrou o espírito.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não poderia dizer-me algo das lições recebidas? - indaguei com interesse.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– O orientador, muito versado em matemática - prosseguiu ela -, fez-nos sentir que o lar é como se fora um ângulo reto nas linhas do plano da evolução divina. A reta vertical é o sentimento feminino, envolvido nas inspirações criadoras da vida. A reta horizontal é o sentimento masculino, em marcha de realizações no campo do progresso comum. O lar é o sagrado vértice onde o homem e a mulher se encontram para o entendimento indispensável.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />É templo, onde as criaturas devem unir-se espiritual antes que corporalmente. Há na Terra, agora, grande número de estudiosos das questões sociais, que aventam várias medidas e clamam pela regeneração da vida doméstica. Alguns chegam a asseverar que a instituição da família humana está ameaçada. Importa considerar, entretanto, que, a rigor, o lar é conquista sublime que os homens vão realizando vagarosamente. Onde, nas esferas do globo, o verdadeiro instituto doméstico, baseado na harmonia justa, com os direitos e deveres legitimamente partilhados? Na maioria, os casais terrestres passam as horas sagradas do dia vivendo a indiferença ou o egoísmo feroz. Quando o marido permanece calmo, a mulher parece desesperada; quando a esposa se cala, humilde, o companheiro tiraniza. Nem a consorte se decide a animar o esposo, na linha horizontal de seus trabalhos temporais, nem o marido se resolve a segui-la no vôo divino de ternura e sentimento, rumo aos planos superiores da Criação. Dissimulam em sociedade e, na vida íntima, um faz viagens mentais de longa distância, quando o outro comenta o serviço que lhe seja peculiar. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Se a mulher fala nos filhinhos, o marido excursiona através dos negócios; se o companheiro examina qualquer dificuldade do trabalho, que lhe diz respeito, a mente da esposa volta ao gabinete da modista. É claro que, em tais circunstâncias, o ângulo divino não está devidamente traçado. Duas linhas divergentes tentam, em vão, formar o vértice sublime, a fim de construírem um degrau na escada<br />grandiosa da vida eterna.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Esses conceitos calavam-me fundo e, sumamente impressionado, observei: – Senhora Laura, essas definições suscitam um mundo de pensamentos novos. Ah! se conhecêssemos tudo isso lá na Terra!...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Questão de experiência, meu amigo - replicou a nobre matrona -, o homem e a mulher aprenderão no sofrimento e na luta.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Por enquanto, raros conhecem que o lar é instituição essencialmente Divina e que se deve viver, dentro de suas portas, com todo o coração e com toda a alma. Enquanto as criaturas vulgares atravessam a florida região do noivado, procuram-se mobilizando os máximos recursos do espírito, e daí o dizer-se que todos os seres são belos quando estão verdadeiramente amando. O assunto mais trivial assume singular encanto nas palestras mais fúteis. O homem e a mulher comparecem aí, na integração de suas forças sublimes. Mas logo que recebem a bênção nupcial, a maioria atravessa os véus do desejo e cai nos braços dos velhos monstros que tiranizam corações. Não há concessões recíprocas. Não há tolerância e, por vezes, nem mesmo fraternidade. E apaga-se a beleza luminosa do amor, quando os cônjuges perdem a camaradagem e o gosto de conversar. Daí em diante, os mais educados respeitam-se; os mais rudes mal se suportam. Não se entendem.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Perguntas e respostas são formuladas em vocábulos breves. Por mais que se unam os corpos, vivem as mentes separadas, operando em rumos opostos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Tudo isso é a pura verdade! - aduzi comovido.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Que fazer, porém, meu amigo? - replicou a bondosa senhora - na fase atual evolutiva do planeta, existem na esfera carnal raríssimas uniões de almas gêmeas, reduzidos matrimônios de almas irmãs ou afins, e esmagadora porcentagem de ligações de resgate. O maior número de casais humanos é constituído de verdadeiros forçados, sob algemas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Procurando retomar o fio das considerações sugeridas por minha pergunta inicial, continuou a genitora de Lísias: – As almas femininas não podem permanecer inativas aqui. É preciso aprender a ser mãe, esposa, missionária, irmã. A tarefa da mulher, no lar, não pode circunscrever-se a umas tantas lágrimas de piedade ociosa e a muitos anos de servidão. É claro que o movimento coevo do feminismo desesperado constituí abominável ação contra as verdadeiras atribuições do espírito feminino. A mulher não pode ir ao duelo com os homens, através de escritórios e gabinetes, onde se reserva atividade justa ao espírito masculino.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Nossa colônia, porém, ensina que existem nobres serviços de extensão do lar, para as mulheres. A enfermagem, o ensino, a indústria do fio, a informação, os serviços de paciência, representam atividades assaz expressivas. O homem deve aprender acarrear para o ambiente doméstico a riqueza de suas experiências, e a mulher precisa conduzir a doçura do lar para os labores ásperos do homem. Dentro de casa, a inspiração; fora dela, a atividade.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Uma não viverá sem a outra. Como sustentar-se o rio sem a fonte, e como espalhar-se a água da fonte sem o leito do rio?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não pude deixar de sorrir, ouvindo a interrogação.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">A mãe de Lísias, depois de longo intervalo, continuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Quando o Ministério do Auxílio me confia crianças ao lar, minhas horas de serviço são contadas em dobro, o que lhe pode dar idéia da importância do serviço maternal no plano terreno.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Entretanto, quando isso não acontece, tenho meus deveres diuturnos nos trabalhos de enfermagem, com a semana de quarenta e oito horas de tarefa.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Todos trabalham em nossa casa. A não ser<br />minha neta convalescente, não temos qualquer pessoa da família em zonas de repouso. Oito horas de atividade no interesse coletivo, diariamente, é programa fácil a todos. Sentir-me-ia envergonhada se não o executasse também.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Interrompeu-se a interlocutora por alguns momentos, enquanto me perdia em vastas considerações...</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-1915510748156247792017-08-18T15:33:00.003-07:002017-09-04T15:17:38.781-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 21 - Continuando A Palestra</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">– A palestra, senhora Laura - exclamei com interesse -, sugere numerosas interrogações, relevar-me-á a curiosidade, o abuso...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não diga isso - retrucou, bondosa -, pergunte sempre. Não estou em condições de ensinar; todavia, é sempre fácil informar.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Rimo-nos da observação e indaguei em seguida:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Como se encara o problema da propriedade na colônia? Esta casa, por exemplo, pertence-lhe?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ela sorriu e esclareceu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Tal como se dá na Terra, a propriedade aqui é relativa. Nossas aquisições são feitas à base de horas de trabalho. O bônushora, no fundo, é o nosso dinheiro. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Quaisquer utilidades são adquiridas com esses cupons, obtidos por nós mesmos, a custa de esforço e dedicação. As construções em geral representam patrimônio comum, sob controle da Governadoria; cada família espiritual, porém, pode conquistar um lar (nunca mais que um), apresentando trinta mil bônus-hora, o que se pode conseguir com algum tempo de serviço. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Nossa morada foi conquistada pelo trabalho perseverante de meu esposo, que veio para a esfera espiritual muito antes de mim. Dezoito anos estivemos separados pelos laços físicos, mas sempre unidos pelos elos espirituais.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ricardo, porém, não descansou. Recolhido ao "Nosso Lar", depois de certo período de extremas perturbações, compreendeu imediatamente a necessidade do esforço ativo, preparando-nos um ninho para o futuro. Quando cheguei, estreamos a habitação que ele organizara com esmero, acentuando-se nossa ventura. Desde então, meu esposo ministrou-me conhecimentos novos. Minhas lutas na viuvez haviam sido intensas. Muito moça ainda, com os filhos tenros, tive de enfrentar serviços rudes. A custa de testemunhos difíceis, proporcionei aos rebentos de nossa união os valores educativos, de que eu podia dispor, habituando-os, porém, muito cedo, aos trabalhos árduos. Compreendi, depois, que a existência laboriosa me livrara das indecisões e angústias do Umbral, por colocar-me a coberto de muitas e perigosas tentações. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">O suor do corpo ou a preocupação justa, nos campos de atividade honesta, constituem valiosos recursos para a elevação e defesa da alma.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Reencontrar Ricardo, tecer novo ninho de afetos, representava o céu para mim. Durante anos consecutivos, vivemos a vida de perene ventura, trabalhando por nossa evolução, unindo-nos cada vez mais e cooperando no progresso efetivo dos que nos são afins.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Com o correr do tempo, Lísias, Iolanda e Judite reuniram-se a nós, aumentando nossa felicidade.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Após ligeiro intervalo, em que parecia meditar, minha interlocutora prosseguiu em tom grave:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Mas a esfera do globo nos esperava. Se o presente estava cheio de alegria, o passado chamava a contas, para que o futuro se harmonizasse com a lei eterna. Não podíamos pagar à Terra com bônus-hora e sim com o suor honrado, fruto de trabalhos. Dada a nossa boa-vontade, aclarava-se-nos a visão, relativamente ao pretérito doloroso. A lei do ritmo exigia, então, nossa volta.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Aquelas afirmativas causavam-me viva impressão. Era a primeira vez que se feria tão fundo aos meus ouvidos, na colônia, o assunto referente a encarnações pregressas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Senhora Laura - exclamei, interrompendo-a -, permita, por obséquio, um aparte. Perdoe a curiosidade; no entanto, até agora, ainda não pude conhecer mais detidamente o que se relaciona com o meu passado espiritual. Não estou isento dos laços físicos? Não atravessei o rio da morte? A senhora recordou o passado, logo após sua vinda, ou esperou o concurso do tempo? – Esperei-o - replicou, sorridente -; antes de tudo, é indispensável nos despojarmos das impressões físicas. As escamas da inferioridade são muito fortes. É preciso grande equilíbrio para podermos recordar, edificando. Em geral, todos temos erros clamorosos, nos ciclos da vida eterna. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Quem lembra o crime cometido costuma considerar-se o mais desventurado do Universo; e quem recorda o crime de que foi vítima, considera-se em conta de infeliz, do mesmo modo. Portanto, somente a alma muito segura de si recebe tais atributos como realização espontânea. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">As demais são devidamente controladas no domínio das reminiscências e, se tentam burlar esse dispositivo da lei, não raro tendem ao desequilíbrio e à loucura.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Mas a senhora recordou o passado de maneira natural? - perguntei.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Explico-me - respondeu bondosamente -; quando se me aclarou a visão interior, as lembranças vagas me causavam perturbações de vulto. Coincidiu que meu marido partilhava o mesmo estado d’alma. Resolvemos ambos consultar o assistente Longobardo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Esse amigo, depois de minucioso exame das nossas impressões, nos encaminhou aos magnetizadores do Ministério do Esclarecimento. Recebidos com carinho, tivemos acesso em primeiro lugar à Seção do Arquivo, onde todos nós temos anotações particulares.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Aconselharam-nos os técnicos daquele Ministério a ler nossas próprias memórias, durante dois anos, sem prejuízo de nossa tarefa do Auxílio, abrangendo o período de três séculos. O chefe do serviço de Recordações não nos permitiu a leitura de fases anteriores, declarando-nos incapazes de suportar as lembranças correspondentes a outras épocas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– E bastou a leitura para que se sentisse na posse das reminiscências?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />- atalhei, curioso.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não. A leitura apenas informa. Depois de longo período de meditação para esclarecimento próprio, e como surpresas indescritíveis, fomos submetidos a determinadas operações psíquicas, a fim de penetrar os domínios emocionais das recordações. Os espíritos técnicos no assunto nos aplicaram passes no cérebro, despertando certas energias adormecidas... Ricardo e eu ficamos, então, senhores de trezentos anos de memória integral. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Compreendemos, então, quão grande é ainda o nosso débito para com as organizações do planeta!...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– E onde está nosso irmão Ricardo? Como estimaria conhecêlo!...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />- exclamei sob forte impressão.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A genitora de Lísias meneou significativamente a cabeça e murmurou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Em vista de nossas observações referentes ao passado, combinamos novo encontro nas esferas da crosta. Temos trabalho, muito trabalho, na Terra. Desse modo, Ricardo partiu há três anos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Quanto a mim, seguirei dentro de breves dias. Aguardo apenas a chegada de Teresa, para deixá-la junto aos nossos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E de olhar vago, como se a mente estivesse muito longe, ao lado da filha ainda retida na Terra, a senhora Laura acentuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– A mãe de Eloísa não tardará. A passagem dela através do Umbral será somente de algumas horas, em vista dos seus profundos sacrifícios, desde a infância.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Pelo muito que sofreu não precisará dos tratamentos da Regeneração. Poderei, portanto, transmitir- lhe minhas obrigações no Auxílio e partir sossegada. O Senhor não nos esquecerá.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-61595208759092781252017-08-18T15:26:00.001-07:002017-09-04T15:15:14.334-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 22 - O Bônus - Hora</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Notando que a senhora Laura entristecera subitamente ao recordar o marido, modifiquei o rumo da palestra, interrogando:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Que me diz do bônus-hora? Trata-se de algum metal amoedado?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Minha interlocutora perdeu o aspecto cismativo, a que se recolhera, e replicou, atenciosa:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não é propriamente moeda, mas ficha de serviço individual, funcionando como valor aquisitivo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Aquisitivo? - perguntei abruptamente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Explico-me - respondeu a bondosa senhora -; em "Nosso Lar" a produção de vestuário e alimentação elementares pertence a todos em comum. Há serviços centrais de distribuição na Governadoria e departamentos do mesmo trabalho nos Ministérios. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">O celeiro fundamental é propriedade coletiva.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ante meu gesto silencioso de espanto, acentuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Todos cooperam no engrandecimento do patrimônio comum e dele vivem. Os que trabalham, porém, adquirem direitos justos. Cada habitante de "Nosso Lar" recebe provisões de pão e roupa, no que se refere ao estritamente necessário; mas os que se esforçam na obtenção do bônus-hora conseguem certas prerrogativas na comunidade social. O espírito que ainda não trabalha, poderá ser abrigado aqui; no entanto, os que cooperem podem ter casa própria. O ocioso vestirá, sem dúvida; mas o operário dedicado vestirá o que melhor lhe pareça; compreendeu? Os inativos podem permanecer nos campos de repouso, ou nos parques de tratamento, favorecidos pela intercessão de amigos; entretanto, as almas operosas conquistam o bônus-hora e podem gozar a com panhia de irmãos queridos, nos lugares consagrados ao entretenimento, ou o contacto de orientadores sábios, nas diversas escolas dos Ministérios em geral. Precisamos conhecer o preço de cada nota de melhoria e elevação. Cada um de nós, os que trabalhamos, deve dar, no mínimo, oito horas de serviço útil, nas vinte e quatro de que o dia se constitui. Os programas de trabalho, porém, são numerosos e a Governadoria permite quatro horas de esforço extraordinário, aos que desejem colaborar no trabalho comum, de boa-vontade. Desse modo, há muita gente que consegue setenta e dois bônus-hora, por semana, sem falar dos serviços sacrificiais, cuja remuneração é duplicada e, às vezes, triplicada.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Mas, é esse o único título de remuneração? - perguntei.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sim, é o padrão de pagamento a todos os colaboradores da colônia, não só na administração, como também na obediência.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lembrando as organizações terrestres, indaguei, espantado:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Todavia, como conciliar semelhante padrão com a natureza do serviço? O administrador ganhará oito bônus-hora na atividade normal do dia, e o operário do transporte receberá a mesma coisa?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Não é o trabalho do primeiro mais elevado que o do segundo?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A senhora sorriu à pergunta e explicou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Tudo é relativo. Se, na orientação ou na subalternidade, o trabalho é de sacrifício pessoal, a expressão remunerativa é justamente multiplicada. Examinando, porém, mais detidamente a sua pergunta, precisamos, antes de mais nada, esquecer determinados prejuízos da Terra. A natureza do serviço é problema dos mais importantes; contudo, na própria esfera da crosta é que o assunto apresenta solução mais difícil. A maioria dos homens encarnados está simplesmente ensaiando o espírito de serviço e aprendendo a trabalhar nos diversos setores da vida humana. Por isso mesmo, é imprescindível fixar as remunerações terrestres com maior atenção.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Todo o ganho externo do mundo é lucro transitório. Vemos trabalhadores obcecados pela questão de ganhar, transmitindo fortunas vultosas à inconsciência e à dissipação; outros amontoam expressões bancárias que lhes servem de martírio pessoal e de ruína à família. Por outro lado, é indispensável considerar que setenta por cento dos administradores terrenos não pesam os deveres morais que lhes competem e que a mesma porcentagem pode ser adjudicada a quantos foram chamados à subordinação. Vivem, quase todos, a confessar ausência do impulso vocacional, recebendo embora os proventos comuns aos cargos que ocupam.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Governos e empresas pagam a médicos que se entregam à exploração de interesses outros e a operários que matam o tempo. Onde, aí, a natureza de serviço? Há técnicos de indústria econômica<br />que nunca prezaram integralmente a obrigação que lhes assiste e valem-se de leis magnânimas, à maneira de moscas venenosas no pão sagrado, exigindo abonos, facilidades e aposentadorias.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Creia, porém, que todos pagarão muito caro a displicência. Parece ainda distante o tempo em que os institutos sociais poderão determinar a qualidade de serviço dos homens, porque, para o plano espiritual superior, não se especificará teor de trabalho, sem a consideração dos valores morais despendidos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Essas palavras despertavam-me para concepções novas. Percebendo- me a sede de instrução, a interlocutora continuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– O verdadeiro ganho da criatura é de natureza espiritual e o bônus-hora, em nossa organização, modifica-se em valor substancial, segundo a natureza dos nossos serviços. No Ministério da Regeneração, temos o Bônus-Hora-Regeneração; no Ministério do Esclarecimento, o Bônus-Hora-Esclarecimento, e assim por diante.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ora, examinando o provento espiritual, é razoável que a documentação de trabalho revele a essência do serviço. As aquisições fundamentais constituem-se de experiência, educação, enriquecimento de bênçãos Divinas, extensão de possibilidades. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Nesse prisma, os fatores assiduidade e dedicação representam, aqui, quase tudo. Em geral, em nossa cidade de transição, a maioria prepara-se com vistas à necessidade de regresso aos círculos carnais. Examinando esse princípio, é natural que o homem que empregou cinco mil horas, em serviços regeneradores, tenha efetuado esforço sublime, a benefício de si mesmo; o que despendeu seis mil horas de atividade, no Ministério do Esclarecimento, estará mais sábio. Poderemos gastar os bônus-hora conquistados; entretanto, é mais valioso ainda o registro individual da contagem de tempo de serviço útil, que nos confere direito a preciosos títulos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Semelhantes instruções interessavam-me profundamente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Poderemos, porém, gastar nossos bônus-hora a favor dos amigos? - indaguei curioso.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Perfeitamente - disse ela -; poderemos repartir as bênçãos de nosso esforço com quem nos aprouver. Isto é direito inalienável do trabalhador fiel.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Contam-se por milhares as pessoas favorecidas em "Nosso Lar", pela movimentação da amizade e do estímulo fraternal.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A essa altura, a genitora de Lísias sorriu e observou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Quanto maior a contagem do nosso tempo de trabalho, maiores intercessões podemos fazer. Compreendemos, aqui, que nada existe sem preço e que para receber é indispensável dar alguma coisa. Pedir, portanto, é ocorrência muito significativa na existência de cada um. Somente poderão rogar providências e dispensar obséquio os portadores de títulos adequados, entendeu?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– E o problema da herança? - inquiri de repente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não temos aqui demasiadas complicações - respondeu a senhora Laura, sorrindo. Vejamos, por exemplo, o meu caso. Aproxima-se o tempo do meu regresso aos planos da crosta. </span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Tenho comigo três mil Bônus-Hora-Auxílio, no meu quadro de economia pessoal. Não posso legá-los a minha filha que está a chegar, por que esses valores serão revertidos ao patrimônio comum, permanecendo minha família apenas com o direito de herança ao lar; no entanto, minha ficha de serviço autoriza-me a interceder por ela e preparar-lhe aqui trabalho e concurso amigo, assegurando-me, igualmente, o valioso auxílio das organizações de nossa colônia espiritual, durante minha permanência nos círculos carnais. Nesse cômputo, deixo de referir-me ao lucro maravilhoso que adquiri no capítulo da experiência, nos anos de cooperação no Ministério do Auxílio. Volto à Terra, investida de valores mais altos e demonstrando qualidades mais nobres de preparação ao êxito desejado.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Ia prorromper em exclamações admirativas, referentes ao processo simples de ganhar, aproveitar, cooperar e servir, confrontando aquelas soluções com os princípios imperantes no planeta, mas um brando burburinho aproximou-se da casa.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Antes que pudesse emitir qualquer observação, a senhora Laura murmurou, satisfeita:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Nossos queridos estão de volta.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E levantou-se para atender.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-22147176679273714672017-08-18T15:18:00.000-07:002017-09-04T15:11:50.475-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 23 - Saber Ouvir </span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Intimamente, lamentei a interrupção da palestra. Os esclarecimentos da senhora Laura fortaleciam-me o coração.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias entrou em casa visivelmente satisfeito.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Olá! ainda não se recolheu? - perguntou, sorridente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />E, enquanto os jovens se despediam, convidava-me, solícito:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Venha ao jardim, pois ainda não viu o luar destes sítios.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A dona da casa entrava em conversação com as filhas, enquanto acompanhando Lísias fui aos canteiros em flor.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O espetáculo apresentava-se soberbo! Habituado à reclusão hospitalar, entre grandes árvores, ainda não conhecia o quadro maravilhoso que a noite clara apresentava, ali, nos vastos quarteirões do Ministério do Auxílio. Glicínias de prodigiosa beleza enfeitavam a paisagem. Lírios de neve, matizados de ligeiro azul ao fundo do cálice, pareciam taças, de caricioso aroma. Respirei a longos haustos, sentindo que ondas de energia nova me penetravam o ser. Ao longe, as torres da Governadoria mostravam belos efeitos de luz. Deslumbrado, não conseguia emitir impressões.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Esforçando-me para exteriorizar a admiração que me invadia a alma, falei comovidamente:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Nunca presenciei tamanha paz! Que noite!...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O companheiro sorriu e acentuou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Há compromisso entre todos os habitantes equilibrados da colônia, no sentido de não se emitirem pensamentos contrários ao bem. Dessarte, o esforço da maioria se transforma numa prece quase perene. Dai nascerem as vibrações de paz que observamos.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Após enlevar-me na contemplação do quadro prodigioso, como se estivesse bebendo a luz e a calma da noite, voltamos ao interior, onde Lísias se aproximou de pequeno aparelho postado na sala, à maneira de nossos receptores radiofônicos. Aguçouse-me a curiosidade. Que iríamos ouvir?</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Mensagens da Terra? Vindo ao encontro de minhas interrogações íntimas, o amigo esclareceu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não ouviremos vozes do planeta. Nossas transmissões baseiam-se em forças vibratórias mais sutis que as da esfera da crosta.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Mas não há recurso - indaguei - para recolher as emissões terrestres?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sem dúvida que temos elementos para fazê-lo, em todos os Ministérios; entretanto, no ambiente doméstico o problema de nossa atualidade é essencial. A programação do serviço necessário, as notas da Espiritualidade Superior e os ensinamentos elevados vivem, agora, para nós outros, muito acima de qualquer cogitação terrestre.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A observação era justa; mas, habituado ao apego doméstico, inquiri, de pronto:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Será tanto assim? E os parentes que ficaram a distância?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Nossos pais, nossos filhos?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Já esperava essa pergunta: Nos círculos terrestres somos levados, muitas vezes, a viciar as situações. A hipertrofia do sentimento é mal comum de quase todos nós. Somos, por lá, velhos prisioneiros da condição exclusivista. Em família, isolamo-nos freqüentemente no cadinho do sangue e esquecemos o resto das obrigações. Vivemos distraídos dos verdadeiros princípios de fraternidade. Ensinamo-los a todo mundo, mas, em geral, chegado o momento do testemunho, somos solidários apenas com os nossos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Aqui, porém, meu amigo, a medalha da vida apresenta a outra face. É preciso curar nossas velhas enfermidades e sanar injustiças. No início da colônia, todas as moradias, ao que sabemos, ligavam-se com os núcleos de evolução terrestre. </span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Ninguém suportava a ausência de notícias da parentela comum. Do Ministério da Regeneração ao da Elevação, vivia-se em constante guerra nervosa.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Boatos assustadores perturbavam as atividades em geral. Mas, precisamente há dois séculos, um dos generosos Ministros da União Divina compelia a Governadoria a melhorar a situação. O ex-Governador era talvez demasiadamente tolerante. A bondade desviada provoca indisciplinas e quedas. E, de quando em quando, as notícias dos afeiçoados terrestres punham muitas famílias em polvorosa. Os desastres coletivos no mundo, quando interessassem algumas entidades em "Nosso Lar", eram aqui verdadeiras calamidades públicas. Segundo nosso arquivo, a cidade era mais um departamento do Umbral, que propriamente zona de refazimento e instrução. Amparado pela União Divina, o Governador proibiu o intercâmbio generalizado.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Houve luta. Mas o Ministro generoso, que incrementou a medida, valeu-se do ensinamento de Jesus que manda os mortos enterrarem seus mortos e a inovação se tornou vitoriosa em pouco tempo.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Entretanto - objetei -, seria interessante colher notícias dos nossos amados em trânsito na Terra. Não daria isso mais tranqüilidade à alma?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias, que permanecia junto ao receptor, sem ligá-lo, como interessado em me fornecer explicações mais amplas, acrescentou:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Observe a si mesmo, a fim de ver se valeria a pena. Está preparado, por exemplo, para manter a precisa serenidade, esperando com fé e agindo com os preceitos divinos, em sabendo que um filho de seu coração está caluniado ou caluniando? Se alguém o informasse, agora, de que um dos seus irmãos consangüíneos foi hoje encarcerado como criminoso, teria bastante força para conservar- se tranqüilo? Sorri, desapontado.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não devemos procurar notícias dos planos inferiores - prosseguiu, solícito - senão para levar auxílios justos.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Convenhamos, porém, que a criatura alguma auxiliará com justiça, experimentando desequilíbrios do sentimento e do raciocínio. Por isso, é indispensável a preparação conveniente, antes de novos contactos com os parentes terrenos.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Se eles oferecessem campo adequado ao amor espiritual, o intercâmbio seria desejável; mas esmagadora porcentagem de encarnados não alcançou, ainda, nem mesmo o domínio próprio e vive às tontas, nos altos e baixos das flutuações de ordem material. Precisamos, embora as dificuldades sentimentais, evitar a queda nos círculos vibratórios inferiores.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Contudo, evidenciando minha teimosia caprichosa, indaguei:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Mas, Lísias, você que tem um amigo encarnado, qual seu pai, não gostaria de comunicar-se com ele?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Sem dúvida - respondeu bondosamente -, quando merecemos essa alegria, visitamo-lo em sua nova forma, verificando-se o mesmo, quando se trata de qualquer expressão de intercâmbio entre ele e nós. Não devemos esquecer, entretanto, que somos criaturas falíveis. Necessitamos, pois, recorrer aos órgãos competentes, que determinem a oportunidade ou o merecimento exigidos.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Para esse fim, temos o Ministério da Comunicação.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Acresce notar que, da esfera superior, é possível descer à inferior com mais facilidade. Existem, contudo, certas leis que mandam compreender devidamente os que se encontram nas zonas mais baixas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />É tão importante saber falar como saber ouvir. "Nosso Lar" vivia em perturbações porque, não sabendo ouvir, não podia auxiliar com êxito e a colônia transformava-se, freqüentemente, em campo de confusão.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Calei-me vencido pelo argumento ponderoso. E, enquanto me conservava em silêncio, o enfermeiro amigo abriu o controle de recepção sob meus olhos curiosos.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6010012175232195069.post-40229860473855804482017-08-18T15:12:00.003-07:002017-09-04T15:08:25.373-07:00<span style="color: blue;"><span style="font-size: x-large;">Nosso Lar - 24 - O Impressionante Apelo</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s1600/hqdefaultdwd.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdjpdRKsRyHwRvMPuwhXytsbC2oWk11FWHcVF9pkonrkRr9vzI9QeK_k4FFCo9kGBz7AARzcyzb11Tt00FP6FErgapGz6DkrJ5RlbCumGgRKmc87X2XqWrTLTaX-sacTMtTm6EcPbT7rM/s200/hqdefaultdwd.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: x-large;">Ligado o receptor, suave melodia derramou-se no ambiente, embalando-nos em harmoniosa sonoridade, vendo-se no espelho<br />da televisão a figura do locutor, no gabinete de trabalho. Daí a instantes, começou ele a falar:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Emissora do Posto Dois, de "Moradia". </span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Continuamos a irradiar o apelo da colônia, em benefício da paz na Terra. Concitamos os colaboradores de bom ânimo a congregar energias no serviço de preservação do equilíbrio moral nas esferas do globo. Ajudainos, quantos puderem ceder algumas horas de cooperação nas zonas de trabalho que ligam as forças obscuras do Umbral à mente humana. Negras falanges da ignorância, depois de espalharem os fachos incendiários da guerra na Ásia, cercam as nações européias, impulsionando-as a novos crimes.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Nosso núcleo, junto aos demais que se consagram ao trabalho de higiene espiritual, nos<br />círculos mais próximos da crosta, denuncia esses movimentos dos poderes concentrados do mal, pedindo concurso fraterno e auxílio possível.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Lembrai-vos de que a paz necessita de trabalhadores de defesa! Colaborai conosco na medida de vossas forças!... Há serviço para todos, desde os campos da crosta às nossas portas!...</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Que o Senhor nos abençoe.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Interrompeu-se a voz, ouvindo-se divina música, novamente.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A inflexão do estranho convite abalara-me as fibras mais íntimas. Veio Lísias em meu socorro, explicando:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Estamos ouvindo "Moradia", velha colônia de serviços muito ligada às zonas inferiores. Como sabe, estamos em agosto de 1939. Seus últimos sofrimentos pessoais não lhe deram tempo para ponderar sobre a angustiosa situação do mundo, mas posso afiançar que as nações do planeta se encontram na iminência de tremendas batalhas.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Que diz? - indaguei, aterrado - pois não bastou o sangue da última grande guerra?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Lísias sorriu, fixando em mim os olhos brilhantes e profundos, como a lastimar em silêncio a gravidade da hora humana.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Pela primeira vez o enfermeiro amigo não me respondeu. Seu mutismo constrangera-me. Assombrava-me, sobretudo, a imensidade dos serviços espirituais nos planos de vida nova a que me recolhera. Pois havia cidades de espíritos generosos, suplicando socorro e cooperação? </span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Apresentara-se a voz do locutor com entonação de verdadeiro S.O.S.. Vira-lhe a fisionomia abatida, no espelho da televisão.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Demonstrava ansiedade profunda nos olhos inquietos. E a linguagem? Ouvira-lhe nitidamente o idioma português, claro e correto. Julgava que todas as colônias espirituais se intercomunicassem pelas vibrações do pensamento. Havia, ainda<br />ali, tão grande dificuldade no capítulo do intercâmbio? </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Identificando- me as perplexidades, Lísias esclareceu:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Estamos ainda muito longe das regiões ideais da mente pura.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Tal como na Terra, os que se afinam perfeitamente entre si podem permutar pensamentos, sem as barreiras idiomáticas; mas, de modo geral, não podemos prescindir da forma, no lato sentido da expressão. Nosso campo de lutas é imensurável.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">A humanidade terrestre, constituída de milhões de seres, une-se à humanidade invisível do planeta, que integra muitos bilhões de criaturas. Não seria, portanto, possível atingir as zonas aperfeiçoadas, logo após a morte do corpo físico. Os patrimônios nacionais e lingüísticos remanescem ainda aqui, condicionados a fronteiras psíquicas. Nos mais diversos setores de nossa atividade espiritual existe elevado número de espíritos libertos de todas as limitações, mas insta<br />considerar que a regra é sofrer-se dessas restrições.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Nada enganará o princípio de seqüência, imperante nas leis evolutivas. Nesse ínterim, interrompia-se a música, voltando o locutor:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Emissora do Posto Dois, de "Moradia".</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;"> Continuamos a irradiar o apelo da colônia em benefício da paz na Terra. Nevoeiros pesados amontoam-se ao longo dos céus da Europa. Forças tenebrosas do Umbral penetram em todas as direções, respondendo ao apelo das tendências mesquinhas do homem. Há muitos benfeitores devotados, lutando com sacrifícios em favor da concórdia internacional, nos gabinetes políticos. Alguns governos, no entanto, se encontram excessivamente centralizados, oferecendo escassas possibilidades à colaboração de natureza espiritual. Sem órgãos de ponderação e conselho desapaixonado, caminham esses países para uma guerra de grandes proporções Oh! irmãos muito amados, dos núcleos superiores, auxiliemos a preservação da tranqüilidade humana!... Defendamos os séculos de experiência de numerosas pátrias-mães da Civilização Ocidental!... Que o Senhor nos abençoe.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Calou-se o locutor e voltaram as cariciosas melodias.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />O enfermeiro permaneceu em silêncio, que não ousei interromper.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Após cinco minutos de harmonia repousante, a mesma voz se fez novamente ouvir:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Emissora do Posto Dois, de "Moradia".</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Continuamos a irradiar o apelo da colônia em benefício da paz na Terra. Companheiros e irmãos, invoquemos o amparo das poderosas Fraternidades da Luz, que presidem aos destinos da América! Cooperai conosco na salvação de milenários patrimônios da evolução terrestre!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Marchemos em socorro das coletividades indefesas, amparemos os corações maternais sufocados de angústia!</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Nossas energias estão empenhadas em vigoroso duelo com as legiões da ignorância.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Quanto estiver ao vosso alcance, vinde em nosso auxílio!</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Somos a parte invisível da humanidade terrestre, e muitos de nós volveremos aos fluidos carnais para resgatar prístinos erros. A humanidade encarnada é igualmente nossa família.</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Unamo-nos numa só vibração. Contra o assédio das trevas, acendamos a luz; contra a guerra do mal, movimentemos a resistência do bem. Rios de sangue e lágrimas ameaçam os campos das comunidades européias.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Proclamemos a necessidade do trabalho construtivo, dilatemos nossa fé... Que o Senhor nos abençoe.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />A essa altura, desligou Lísias o aparelho e vi-o enxugar discretamente uma lágrima, que seus olhos não conseguiam conter.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Num gesto expressivo, falou, comovido:</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Grandes abnegados, os irmãos de "Moradia"!</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-large;">Tudo inútil, porém - acentuou, triste, depois de ligeira pausa -, a humanidade terrestre pagará, em dias próximos, terríveis tributos de sofrimento.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Não há, todavia, recurso para conjurar a tremenda catástrofe?</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />- perguntei, sensibilizado.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />– Infelizmente - acrescentou Lísias em tom grave e doloroso – a situação geral é muito crítica. </span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<span style="font-size: x-large;">Para atender às solicitações de "Moradia" e de outros núcleos que funcionam nas vizinhanças do Umbral, reunimos aqui numerosas assembléias, mas o Ministério da União Divina esclareceu que a humanidade carnal, como personalidade coletiva, está nas condições do homem insaciável que devorou excesso de substâncias no banquete comum. A crise orgânica é inevitável. Nutriram-se várias nações de orgulho criminoso, vaidade e egoísmo feroz. Experimentam, agora, a necessidade de expelir os venenos letais.</span><br />
<span style="font-size: x-large;"><br />Demonstrando, entretanto, o propósito de não prosseguir no amarguroso assunto, Lísias convidou-me a recolher.</span>Unknownnoreply@blogger.com0